Rogério Francisco de França, tem 38 anos de idade, dos quais 18 foram dedicados quase que exclusivamente ao vício do álcool. Nesse tempo, quase metade de toda a sua vida, ele perdeu empregos, afastou-se de amigos e perdeu até o carinho e a confiança da família. Mas há seis meses, ele iniciou tratamento e busca recuperar tudo o que ele perdeu durante esse tempo e refazer sua vida.
Essa é a história de vida de Rogério, mas o drama não é exclusivo dele, muitos Josés, Franciscos e tantos outros já vivenciaram ou vivenciam junto com suas famílias a degradação proporcionada pelo uso do álcool. Se no caso de Rogério já é possível ver uma luz no fim do túnel, muitos outros ainda buscam por isso. Hoje, dia em que se comemora o Dia do Alcoolatra Recuperado, profissionais que trabalham com a recuperação destas pessoas afirmam que o caminho é difícil, mas é possível voltar a ter uma vida normal.
O diretor do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas de Teresina, Mauro Passamani, afirma que o índice de recuperação das pessoas que já passaram pelo Caps AD, desde o ano de 2004, quando ele foi criado, está entre 30% e 37%. Até hoje, cerca de cinco mil pessoas já buscaram tratamento no local. ?As pessoas chegam até nós e iniciam seu tratamento que dura um ano. Quando eles passam esse período todo sem consumir álcool são curados do vício e depois saem do centro e passam a ser acompanhados pelos profissionais da atenção básica, caso ainda necessitem de algum cuidado?, disse.
Mas até chegar ao final do tratamento, são inúmeros os obstáculos a serem vencidos. O primeiro e um dos mais difíceis, segundo Mauro, é o dependente aceitar que precisa de tratamento e buscar a ajuda dos profissionais do Caps AD. ?As pessoas ainda resistem na hora de buscar um tratamento. Além disso, há a necessidade do apoio da família, que muitas vezes já está cansada de lutar contra esse vício. Há ainda a necessidade de mais Caps AD e também de políticas que busquem a reinserção dessas pessoas no mercado de trabalho novamente?, argumentou Mauro.
Cresce número de crianças e adolescentes dependentes
Se há algumas décadas os homens com mais de 30 anos eram praticamente os únicos quando se falava em dependência do álcool, hoje ambos os sexos e praticamente todas as faixas etárias já engrossam as estatísticas daqueles que consomem bebidas alcoólicas de forma exagerada. O crescimento do número de crianças alcoólatras é um dos quadros que mais preocupa as autoridades em saúde, hoje em Teresina.
?O álcool hoje é uma bebida muito democrática e pode atingir todas as pessoas, das mais variadas classes sociais e idades e de ambos os sexos. Não há restrição. Essa tem sido uma epidemia que tem destruído famílias inteiras?, disse. Antes essas crianças e adolescentes eram tratados no Caps AD, mas com o crescimento desse número surgiu a necessidade de criar um espaço voltado especialmente para elas.
Há alguns dias foi inaugurada a Casa de Acolhimento Transitório Infanto Juvenil, que recebe pessoas com idade entre 10 e 18 anos. ?No Piauí, assim como em todo o Brasil, tem crescido o número de pessoas nessa faixa etária envolvidas com álcool e outras drogas e surgiu daí a necessidade de criação da CATI. Agora o público infanto-juvenil que passa por esse problema já tem onde encontrar tratamento?, afirmou a coordenadora da Casa, Caroline Arnoud.