Para cada mil mortos, um sobrevivente resgatado. Este é o saldo médio do trabalho das equipes de emergência que atuam no Haiti após o terremoto que atingiu o país no último dia 12.
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Nos dez dias seguintes à tragédia, 132 pessoas foram retiradas com vida dos escombros das casas e prédios que desabaram no país caribenho. O número de mortos, no entanto, é arrasadoramente maior: 111.499, de acordo com a última contagem oficial.
A proporção tende a piorar nos próximos dias. Enquanto estimativas dão conta de que pelo menos 200 mil pessoas morreram em virtude do tremor, o governo haitiano encerrou oficialmente as buscas por sobreviventes nesta sexta-feira (22).
Os trabalhos de resgate contaram com a participação de 1.900 socorristas e 160 cães treinados, divididos em 67 equipes.
A partir de agora, a ajuda humanitária se concentrará em auxiliar as milhares de pessoas que perderam suas casas e que não têm alimentos, especialmente na capital, Porto Príncipe, e nas cidades mais devastadas.
Apesar da matemática mostrar uma inevitável derrota dos socorristas diante das dimensões da tragédia, os números não importam muito para aqueles que ajudaram a retirar pessoas com vida dos escombros do tremor.
Ernest Benjamin, que trabalha no Sinai Hospital de Nova York e se voluntariou para ir ao Haiti como socorrista, retirou uma mulher de 84 anos dos escombros da casa onde ela morava em, Porto Príncipe, dez dias após o tremor. Ele explicou o sentimento:
- Qualquer coisa vale a pena para tentar salvá-la.
A tragédia permite até mesmo lampejos de bom-humor. Foi o caso dos voluntários que conseguiram salvar uma francesa no último dia 14 e foram surpreendidos com um pedido inusitado. Rebecca Gustafson, da Agência Americana de Ajuda ao Desenvolvimento (Usaid), relatou:
- Se precisássemos de uma prova de que se tratava efetivamente de uma francesa, era só dizer que a dama, assim que saiu, nos pediu um copo de vinho. Que evidentemente não demos.
Para as crianças, que já sofriam com as dificuldades do país mais pobre do Hemisfério Ocidental, o terremoto apresentou uma tragédia que dificilmente poderá ser esquecida.
Foi o caso da menina de 15 anos resgatada com vida após 18 horas de soterramento, que relatou:
- Eu ouvia as pessoas morrendo embaixo de mim. Ouvi uma mulher dizendo "meu deus, eu vou morrer", mas não tive medo.
No Haiti, enquanto a tragédia é contada aos milhares, a vida resiste na casa das centenas.