No fim de junho do ano passado, a motorista Aline Clapis Costa, 27, recebeu um passageiro inusitado no ônibus que dirigia. Positivamente impressionado com o fato de estar em um coletivo conduzido por uma mulher, o usuário comentou com Aline: "Se uma mulher está no comando da operação e o cara chega fazendo uma gracinha, acho que ele pensa duas vezes".
Aline concordou, e disse que quanto mais mulheres o sistema tivesse, menores seriam as possibilidades de assédio contra as passageiras.
Seu interlocutor arrematou: "Essa é uma ideia interessante, aumentar o percentual de mulheres". Pois tal passageiro era o prefeito Fernando Haddad (PT), que visitava o Capão Redondo (zona sul) durante ação do programa Prefeitura no Bairro.
Seis meses depois, a conversa entre Aline e Haddad rendeu frutos. Em meados de dezembro, uma portaria da administração municipal determinou que as empresas prestadoras de serviço de ônibus em São Paulo deverão destinar 30% de vagas de trabalho para mulheres.
Esse percentual refere-se ao total de postos, e não precisa ser cumprido individualmente em cada função.
"Como a conversa tinha acontecido há um tempo, achei que não ia dar em nada. Mas fiquei feliz, porque acho que isso ajudará bastante as mulheres", conta Aline, motorista durante a madrugada na linha N739/11, que vai do terminal Capelinha ao Jardim Universal (zona sul).
Atualmente, segundo dados da SPTrans, as mulheres representam apenas 3% dos motoristas da cidade: são 1.037 em um universo de 34.490 condutores cadastrados. É pouco, né?, afirma Juliana Pereira Alves, 29, que dirige na linha 6110/10, entre o conjunto habitacional Palmares (zona sul) e o aeroporto de Congonhas.
Para Juliana, o raciocínio do prefeito está correto. Tanto Juliana quanto Aline começaram a trabalhar nos ônibus como cobradoras, função que também é dominada pelos homens. Dos 21.657 profissionais cadastrados na SPTrans, 3.866 são mulheres, o que corresponde a 17% do total.
Dentro dos ônibus, portanto, há só 8,7% de mulheres, porcentagem muito distante da meta estabelecida pela gestão Haddad -que não estipula prazo para que as empresas cheguem aos 30% nem prevê sanções se tal percentual não for cumprido.
Pede-se apenas que os contratantes realizem ampla e específica divulgação das vagas, "mostrando que se esgotaram todos os recursos possíveis" para contratação de mulheres antes de optarem por homens.