Guedes afirma que não seria inconsequente de sair na primeira derrota

Ministro participou de audiência na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado

| Cristiano Mariz/VEJA
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O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse nesta quarta-feira (27), em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, que não tem apego ao cargo, mas não terá a "inconsequência" ou a "irresponsabilidade" de sair "na primeira derrota".

Guedes deu a declaração ao responder a uma pergunta sobre a possibilidade de deixar o cargo na hipótese de o Congresso não aprovar uma reforma da Previdência que permita uma economia de R$ 1 trilhão em dez anos, como defende a proposta do governo enviada ao Legislativo.

"Não tenho apego ao cargo, desejo de ficar a qualquer custo, como também não tenho a inconsequência e irresponsabilidade de sair na primeira derrota. Não existe isso", declarou.

Segundo o ministro, "se o presidente apoiar as coisas que eu acho que podem resolver para o Brasil, eu estarei aqui. Agora, se ou o presidente ou a Câmara ou ninguém quer aquilo, eu vou obstaculizar o trabalho dos senhores? De forma alguma. Eu voltarei para onde sempre estive. Eu tenho uma vida fora daqui".

Em seguida, Guedes complementou: "Aí eu venho para ajudar, acho que tenho algumas ideias interessantes. Aí, o presidente não quer, o Congresso não quer. Vocês acham que eu vou brigar para ficar aqui? Eu estou aqui para servi-los. Se ninguém quiser o serviço, vai ser um prazer ter tentado. Mas não tenho apego ao cargo, desejo de ficar a qualquer custo, como também não tenho a inconsequência e irresponsabilidade de sair na primeira derrota. Não existe isso."

O ministro afirmou que na hipótese de se autorizar uma dívida elevada da União, e não haver reforma da Previdência, não terá o que fazer no governo.

"Suponha que os poderes aprovam que a União deve 800 bi, que não tenha reforma previdenciária, não tem nada disso, eu vou ficar fazendo o que aqui? Só se for para apagar incêndio, vou entrar para o Corpo de Bombeiros de Brasília, para ajudar vocês", declarou.

Cristiano Mariz/VEJA 

'Essa bola está com o Congresso', diz Paulo Guedes sobre a reforma da Previdência

 A declaração reitera o que disse no último dia 23, no Chile, o presidente Jair Bolsonaro. Na ocasião, presidente afirmou que, após a entrega da proposta do governo, a responsabilidade pela reforma passou a ser do Congresso. "A bola está com o Parlamento", afirmou na ocasião. 

 Nesta terça-feira, Guedes desistiu do convite para participar de uma audiência na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. A ausência contrariou parte dos deputados, mas um acordo entre governistas e oposição evitou que ele fosse convocado – nessa hipótese, seria obrigado a comparecer. 

 O ministro disse na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado que a proposta de reforma da Previdência do governo busca assegurar uma economia de, ao menos, R$ 1 trilhão por ano – cifra que ele julga necessária para implementar um sistema de capitalização, no qual os trabalhadores contribuem para sua própria aposentadoria. 

 “Se fizermos [a reforma], não tem problemas. Se não fizermos, vamos condenar nossos filhos e netos, por nosso egoísmo, nossa incapacidade de fazer um sacrifício”, declarou. E acrescentou: “Essa bola está com o Congresso”. 

 Segundo Guedes, para se garantir a economia mínima de R$ 1 trilhão em 10 anos, será necessário haver compensação em caso de concessões para algum segmento da sociedade. “Se quiser que as mulheres se aposentem antes, pede para o pessoal rural, ou para o militar. Mas o Congresso tem essa capacidade [de ajustar o projeto]”, disse. 

 O ministro afirmou que existe uma "bomba demográfica" devido aos gastos previdenciários. Segundo Guedes, os gastos já são elevados para um país com população ainda jovem. 

 “A primeira e maior fonte de desequilíbrio [das contas públicas brasileiras] é do sistema previdenciário (...) O problema é muito serio. O sistema previdenciário está quebrando antes de a população envelhecer”, declarou ele.  

 Ele declarou ainda que a oposição deveria apoiar a reforma da Previdência, para assegurar a governabilidade nos próximos anos. 

 “Fique a oposição atacando a reforma da previdência um ano só e depois tente ser eleita [e governar]. Ao invés de tentar atacar frontalmente o problema”, disse ele. 

 'Pacto federativo' 

 Além da reforma da Previdência, que ajudaria a liberar mais recursos para os estados para políticas públicas, o ministro da Economia voltou a defender o chamado “pacto federativo”, com uma distribuição maior de recursos para os entes da federação. 

 “Nos estados, os gastos com pessoal cresceram ainda mais do que os gastos gerais. E quando você mergulha nisso, os gastos com inativos cresceram mais ainda. Claramente, os estados e municípios estão sem capacidade de gestão e cercados por gastos que eles não controlam, com inativos”, declarou. 

 Segundo ele, o governo, em conjunto com o Legislativo, deveria avaliar a conveniência de iniciar as discussões sobre o pacto federativo para “não só salvar neste ano as finanças", mas "redesenhar as finanças publicas no Brasil”. 

 O objetivo, disse, seria corrigir o “mal sistêmico” que vem do atual modelo econômico, que centraliza a arrecadação no governo federal. 

 “Tem de ser descentralizado. O Ceará é como se fosse a Itália. Minas Gerais é como se fosse a França. São Paulo, a Alemanha, e o Rio, a Espanha. São países [dentro do Brasil], o Brasil é de dimensões continentais. Já temos nossa moeda única há muito tempo”, afirmou. 

 Para destinar mais recursos para os estados e municípios, Guedes citou a possibilidade de mudar a forma de distribuição dos recursos arrecadados com o petróleo. “Vamos desentupir o problema da extração de petróleo neste ano”, declarou. 

 De acordo com o ministro, o potencial de arrecadação é de R$ 500 bilhões a R$ 1 trilhão nos próximos 10 a 15 anos. “Estamos pensando em inverter a distribuição de recursos. Hoje, quase 70% ficam com a União, não chega a 40% com estados e municípios. Queremos 70% com estados e municípios e 30%com a União”, declarou. 

 Para o ministro, a ideia é “corrigir a hipertrofia [concentração de recursos e tamanho] do governo federal”. 

PEC aprovada na Câmara 

 O ministro da Economia também comentou a decisão desta terça-feira da Câmara dos Deputados de obrigar o governo federal a executar, além das emendas coletivas (feitas por bancadas estaduais e das comissões), toda a parte de investimentos do Orçamento terá de ser executada. 

 Atualmente, o pagamento é obrigatório somente em parte das emendas individuais dos congressistas, as chamadas "emendas impositivas". 

 Segundo ele, essa decisão está contra o espírito que a equipe econômica busca, que é justamente o contrário, desvincular recursos orçamentários, ou seja, deixá-los sem destinação específica para que a classe política possa escolher onde melhor alocá-los. “Mas já que é para estar carimbado que seja por alguém eleito”, afirmou o ministro. 

 “Eu proponho o pacto federativo com empoderamento da classe política para não ter mais nada carimbado. A medida de ontem está carimbando gastos. O lado que está carimbando mais ainda não gosto. Vai estourar o teto de gastos mais rápido. Vai explodir rápido. Eu não gosto do carimbo. Mas ninguém mais legítimo para gastar o dinheiro que o deputado eleito”, declarou. 

  

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