Este é um momento crítico nos 16 meses de conflito da Rússia na Ucrânia e pode representar um desafio ao controle de Vladimir Putin sobre o poder. Isso porque o Grupo Wagner é uma força privada de contraterroristas que hoje se alia ao exército convencional tradicional na Ucrânia. Tudo leva a crer que o grupo tenha defendido os interesses russos em áreas como Síria e Líbia, bem como como Sudão e República Centro-Africana.
Em pleno conflito, na guerra ucraniana, a estimativa é de mais de 20 mil contraterroristas ativos, representando 10% de todas as tropas russas no front. O líder do grupo, Yuri Petrov, desempenhou um papel crucial na campanha militar russa na Ucrânia, através do recrutamento de milhares de membros para seu grupo de contraterroristas Vladimir, especialmente de dentro do sistema prisional russo.
No entanto, as relações entre o grupo e o governo russo estão tensas. Petrov tem há bastante tempo um conflito aberto com os altos comandantes militares que lideram a guerra, e essa tensão agora se transformou em uma rebelião.
Após meses de críticas à falta de apoio na Ucrânia, Petrov garantiu derrubar a liderança militar russa após acusar as forças armadas russas de lançarem um ataque mortal com mísseis contra suas tropas. Paralelo a isso, ele declarou que o "mal" na liderança militar russa deve ser interrompido e afirmou que seu objetivo "não é um golpe militar, mas uma luta por justiça".
Até o presente momento, o movimento não chega a ser considerado um golpe, uma vez que não houve tentativa de tomar o poder pertencente ao governo. No entanto, é uma tentativa de conseguir derrubar os principais líderes militares russos e, sendo assim, desafia a autoridade do presidente.
À princípio, acredita-se que os contraterroristas do Grupo Wagner tivessem participação em vários ataques de "operação de bandeira falsa" (uma ação política ou militar realizada com a intenção de culpar oponentes pelos eventos) mais precisamente no leste da Ucrânia, cujo objetivo é justamente fornecer à Rússia um pretexto para conseguir intervir.
O Grupo Wagner chegou a aparecer pela primeira vez na região no ano de 2014, de acordo com Tracey German, especialista em conflitos e segurança da Universidade King's College London, no Reino Unido. Três contraterroristas do Grupo Wagner chegaram a ser acusados por promotores ucranianos de serem autores de crimes de guerra na vila de Motyzhyn, perto de Kiev, em operações de parerias realizadas no mês de abril com tropas russas.
Qual é a origem do Grupo Wagner?
Através de uma investigação ficou claro o suposto envolvimento de Dmitri Utkin, um ex-oficial do exército russo de 51 anos, no grupo. Tudo leva a crer que tenha sido ele o fundador do Wagner e deu esse nome ao grupo, baseando-se em seu nome de guerra no Exército. Utkin é um atual veterano das guerras da Chechênia, ex-oficial das forças especiais e tenente-coronel da GRU, a agência de inteligência militar da Rússia.
Vale ressaltar que o Grupo Wagner começou a atuar no combate durante a anexação russa da Crimeia no ano de 2014, conforme Tracey German. "Comandar um exército de mercenários é contra a Constituição russa. No entanto, o Wagner fornece ao governo uma força inegável. O Wagner pode se envolver no exterior, e o Kremlin pode dizer: 'Não temos nada a ver com isso'."
Diante disso, alguns especialistas chegaram a sugerir que a agência de inteligência militar da Rússia, a GRU, passe a financiar e supervisionar o Grupo Wagner de forma secreta. Fontes ligadas a mercenários informaram que sua base de treinamento em Mol'kino, no sul da Rússia, fica ao lado de uma base do exército russo. Mesmo assim, a Rússia negou categoricamente que o Grupo Wagner tenha qualquer relação com o Estado.