Um convite que chegou à imprensa nesta semana anunciava a aparição da Virgem Maria, mãe de Jesus para um trio de videntes na Colina das Aparições, localizada em Carmo da Cachoeira (MG). As cerimônias, que acontecem desde 2011 para uma ordem de monges iniciada no Uruguai, são abertas ao público e também transmitidas ao vivo pela internet para o mundo todo. Na pequena cidade do Sul de Minas, as aparições supostamente acontecem na Comunidade Mariana da Figueira, onde um grupo religioso independente, que não é ligado à Igreja Católica, se propõe a viver para Deus e levar a mensagem de Maria para todas as partes do mundo. O G1 acompanhou a cerimônia para tentar entender o que faz o grupo e fiéis acreditarem que a Virgem Maria realmente faz suas aparições naquele local.
Não nos vinculamos a nenhuma religião, assim podemos receber todos os filhos de Maria"
Frei Shuamanim
No dia da suposta aparição, somos recebidos pelo porta-voz da Ordem Graça e Misericórdia, apresentado como Frei Shuamanim, e a assessora de imprensa da Fraternidade ? Federação Humanitária Internacional, Regina Celli Prata, em uma grande e arborizada construção no Centro da cidade. ?Há vários meios de servir a sociedade e a oração é uma delas?, explica o frei Shuamanim sobre o trabalho do grupo de peregrinos de Maria.
Carmo da Cachoeira, com pouco mais de 11 mil habitantes (segundo Censo IBGE de 2010), é conhecida por sediar a Comunidade Figueira, fundada em 1987 pelo filósofo, escritor e palestrante José Trigueirinho Netto, autor de mais de 70 livros que falam sobre espiritualidade. Até o final de 2011, o lugar apenas recepcionava aqueles que buscavam viver dedicados à meditação espiritual e o serviço comunitário. ?Há dois anos, Maria anunciou que faria sua primeira aparição pública no Brasil e que esta seria no que chamou de Centro Mariano Figueira, aqui em Carmo da Cachoeira?, conta o Frei Shuamanim sobre como a ordem de monges estabeleceu esse vínculo com a comunidade.
Segundo explica o frei, Maria se manifesta para três videntes, dois uruguaios e uma brasileira, que pertencem à Ordem Graça e Misericórdia. Eles teriam contato direto e quase cotidiano com a santa, que transmite mensagens para a comunidade durante as aparições e individualmente para cada vidente. Todas são publicadas na internet, no site da ?Associação Maria, Mãe da Divina Concepção?, para que todos tenham acesso. Shuamanim compara as aparições da Figueira com as já conhecidas aparições de Maria em Fátima (Portugal), para os três pastorinhos, e principalmente às que acontecem em Medjugorje, no Sul da Bósnia-Herzegovina, para seis videntes desde 1981.
?Ela se apresentou para nós como Maria, Mãe da Divina Concepção da Trindade, e diz ser a mesma de Nazaré, mãe de Jesus. Ela nos pede para que a mensagem dela seja difundida, que usemos as comunicações. Assim, todo o meio que a gente encontra para difundir a mensagem, a gente usa?, diz o frei, explicando as transmissões pela internet das aparições. Segundo a equipe de monges que acompanha os videntes, as aparições são transmitidas para 77 países. O site tem cerca de 50 mil acessos por mês. Nos dias de aparições, o número de pessoas acessando a página varia de 4 mil a 100 mil acessos no momento da cerimônia.
A ordem de monges à qual os videntes fazem parte não é ligada à Igreja Católica e eles se definem como ecumênicos. Para o frei Shuamanim, esta é a forma que eles encontraram de poder receber a todos de forma neutra. ?Nosso vínculo com a Igreja Católica é muito fraterno, nós colaboramos mutuamente no trabalho com a comunidade, no trabalho de oração, temos católicos que participam do grupo. Mas para que possamos servir a todos, não nos vinculamos a nenhuma religião, assim podemos receber todos os filhos de Maria.?
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Assim como a ordem não é vinculada à Igreja Católica, as aparições de Maria aos três videntes também não é reconhecida pelo Vaticano. Em Vitória (ES), onde aconteceu a suposta última aparição de Maria, a arquidiocese do município chegou a orientar que os católicos não deviam comparecer ao evento. ?Nós respeitamos o posicionamento deles, é legítimo, eles estão estudando e nos observando, e estão protegendo os fiéis deles, porque a gente sabe que existe todo tipo de coisa hoje em dia. Então a gente se posiciona de forma neutra?, disse o frei Shuamanim.
Aparições do grupo são transmitidas para 77 países, ao vivo, pela internet. O número de pessoas acessando a página no momento da cerimônia chega a 100 mil acessos.
As aparições públicas que acontecem na Bósnia, tomadas como principal referência de semelhança com as da Figueira, também não são reconhecidas pelo Vaticano. Em julho de 2009, o Papa Bento XVI chegou a afastar do sacerdócio o padre Tomislav Vlasic por ter promovido o que chamou de falsas aparições marianas em Medjugorje. Desde que Nossa Senhora supostamente apareceu nos arredores de Medjugorje, a aldeia recebe milhões de peregrinos. Os videntes afirmam que a Virgem já apareceu mais 40 mil vezes em cerca de 30 anos na Bósnia.
Frei Shuamanim disse ainda que eles não entraram com nenhum pedido para que o Vaticano reconhecesse as aparições na Comunidade Figueira. ?Essas coisas espirituais não devem se mesclar com coisas ?judiciais??, completou. ?Existem instituições importantíssimas pra sustentar a religião e cada grupo se afirma de uma forma. Nós, como grupo ecumênico, cumprimos uma outra função dentro desse todo. Mas, entende que não tem separação? A gente tem como princípio que temos que buscar o que nos une, e o que nos une é o amor, o Cristo, a fraternidade, o serviço, e todos nós estamos nisso?, finaliza.