O alcoolismo é um furacão que pode destruir uma família inteira. Após o tabagismo, é o tratamento que custa mais caro para os cofres públicos. Além de acabar com a vida do usuário, o vício em álcool desmancha lares e famílias inteiras, que entram em uma doença psicológica tão séria quanto a do viciado. Na intenção de mudar a triste realidade de famílias que convivem com alcoólatras e devolver a dignidade destes membros, os Grupos Familiares Al-Anon prestam uma ajuda para a sociedade tão importante quanto os Alcoólicos Anônimos.
Há mais de 30 anos o Al-Anon tem ajudado famílias com membros alcoólatras apenas no Piauí. Embora haja uma resistência muito grande da família em perceber que ela também precisa de ajuda, elas não precisam sofrer sozinhas. A maioria dos membros do grupo chega lá graças a convites de amigos e familiares que já passaram pelo problema. Ao serem atendidos, eles começam a frequentar reuniões terapêuticas e, à medida que o tempo passa, os frequentadores entendem que nem tudo está perdido.
O grupo segue uma diretriz conhecida como ?os Três Cs?: Você não causou o alcoolismo, não pode controlá-lo e não pode curá-lo. A simples troca de experiências que acontecem nos encontros muitas vezes coloca o sentimento de preocupação com o alcoólatra em seu devido lugar e possibilita uma nova maneira de pensar por parte da família.
As reuniões do Al-Anon são confidenciais e o único requisito para fazer parte é que sejam familiares ou amigos de alcoólatras. Por não ser uma instituição religiosa nem de assistência social, o grupo é mantido com contribuições voluntárias dos próprios membros e não recebe doações de fora.
A abordagem do grupo é a mais simples possível. As reuniões são semanais e cada uma delas tem um tema central onde os membros discutem os problemas da bebida e, como nos Alcoólicos Anônimos, são convidados a compartilharem seus problemas em conjunto. Um desabafo que alivia um pouco do sofrimento do dia a dia e cria novos laços. O Al-Anon forma amizades que se apoiam dentro e fora das paredes da instituição.
?Vim para o Al-Anon porque o convívio com o alcoolismo me deixou muito abalada emocional e psicologicamente. A dependência em álcool desenvolvida por meu marido me deixou tão doente quanto ele. Enquanto ele se preocupava em beber, nós nos preocupávamos se ele não iria fazer nenhuma besteira pela rua. Os dias se passavam e eu ficava cada vez mais isolada, depressiva, tristonha e agressiva. Perdi a razão de viver?, relata a funcionária pública I.G.L., que sofreu por anos com a doença do marido.
Casos como o dela são mais comuns do que se imagina. Geralmente a família se desestrutura com a doença, os membros ficam doentes antes mesmo do alcoólatra e não se dão conta. Depressão e ansiedade são sintomas comuns, mas a família ignora e acha que está tudo bem. O problema é que, com o passar do tempo, o estado psicológico da pessoa só tende a piorar. Aí entra o Al-Anon, ele fornece ajuda espiritual às pessoas percebem que é possível encontrar a luz no fim do túnel.
Grupo ajuda familiares de alcoólatras
Localizado na Avenida José dos Santos e Silva, o Al-Anon é uma associação de homens e mulheres cujas vidas foram afetadas pela maneira de beber de um familiar ou amigo. Fundada em 1951 na cidade de Nova York, Estados Unidos, a organização existe hoje em mais de 100 países. Em Teresina, o grupo atende cerca de 40 pessoas e funciona em quatro unidades: duas no centro, uma no conjunto Bela Vista e outra no bairro Água Mineral.
A iniciativa deu certo e novos grupos foram montados nas cidades de Picos e Floriano.
O Al-Anon, uma abreviatura de ?alcoólicos anônimos?, coopera com famílias providenciando palestras, seminários, grupos de trabalho e reuniões coletivas para os membros. Além disso, a organização tem parceria com profissionais da saúde e instituições sociais, que recomendam a terapia em grupo para pessoas que sofrem com o mesmo problema na família.
É através da troca de experiências baseadas nos princípios do programa que os membros adquirem conhecimentos sobre o alcoolismo e sobre si mesmos. Só assim eles poderão se desligar emocionalmente do problema. ?O que a maioria das pessoas não quer admitir é que a família adoece antes do viciado. Para o alcoólatra, o hábito de beber começa como diversão.
Para nós, esposas e filhos, já começa como preocupação. O importante é que todos se ajudem, tanto os doentes como os familiares. À medida que nos
recuperamos, a convivência familiar melhora?, diz a aposentada M.G.B.
Ela conta que à medida que participava dos encontros começou a perceber que estava deixando as coisas boas da vida passar, pois tentava controlar o incontrolável. A busca por garrafas de bebida escondidas pela casa acabou e ela voltou a receber amigos no lar, mesmo com o problema do marido viciado em álcool. ?Não adianta pensar que meus problemas terminariam se ele parasse de beber. Antes de me lamentar, tinha que dar a volta por cima. E agradeço profundamente ao Al-Anos por isso?.
O grupo realiza atendimentos por telefone e garante o anonimato da pessoa. Eles não julgam, eles se ajudam.
Interessados devem ligar para(86) 3223-4896.
Encontros semanais transformam a vida dos participantes
Os encontros semanais promovidos pelo Al-Anon realmente transformam a vida de muitos participantes. A mudança é visível e os membros, a maioria mulheres com maridos alcoólatras, tiveram motivos para sorrir novamente. A aposentada M. H. L. compartilha suas experiências e revela que sofreu de depressão durante as duas vezes que engravidou.
?Sofro com o mal do alcoolismo desde os 4 anos de idade, pois meu pai também bebia. Me casei e o marido bebe compulsivamente até hoje. Achava que a vida não tinha como melhorar, só piorar. Mas com as leituras e ajudas dos outros membros fui vendo que eu ainda tinha jeito?, fala.
M. H. conta que a ajuda recebida deu certo e continua dando. ?Hoje não meço distâncias para ajudar quem está precisando. Passo por isso todos os dias, mas o sol nasce para todos e também tenho o direito de ser feliz. Por isso faço um pedido: se você também passa por essa aflição diária, nos procure. Mesmo que você esteja desacreditado.
Você com certeza se identificará, pois todas as pessoas daqui sofrem o mesmo problema e te ajudarão a carregar essa cruz?, convoca.
12 passos para tratar a doença e a alma
Assim como os Alcoólicos Anônimos, o Al-Anon também segue um cronograma de 12 passos para o tratamento da doença da alma. Segundo as voluntárias, a estratégia é essencial para recuperar a dignidade há tempos perdida pelo problema do alcoolismo na família. O primeiro passo é admitir para si mesmo que é impotente diante o álcool e que perdeu o controle sobre a vida, assim como reconhecer que havia recorrido a um poder superior para reaver a sanidade.
A dona de casa M. H. L. confessa que teve muita resistência em admitir para si mesma que estava em depressão.
?Cheguei aqui por curiosidade e no início achava que meus problemas eram diferentes. Eu era triste e chorava muito. Não sorria por mais nada, e ainda assim acreditava que a culpa não era minha, e sim do meu marido. Com o tempo fui melhorando e percebi que também tenho responsabilidade na forma como me sinto e é minha obrigação voltar a ser quem eu era antes?, conta.
Após reconhecer para si mesmo e para outro ser humano que o problema da depressão ou ansiedade existe, o passo seguinte é elaborar um inventário moral de si mesmo, procurar reparar todo o mal causado a outras pessoas e se dispor a reparar os danos a todas elas.
Através da prece e da meditação é possível melhorar o convívio com as outras pessoas. Os doze passos buscam despertar um convívio espiritual mais apurado, pois a partir da prática destes princípios nas atividades diárias é possível melhorar como ser humano.