A jovem Ana Carolina Pereira Pinto, de 20 anos, que morreu após aplicar injeções para abortar uma gravidez de sete meses, reclamou de fortes dores horas antes de morrer para o namorado, de 22 anos. Os dois compraram um kit chamado 'kit aborto' pela internet no valor de R$ 1.400.
O rapaz, de 22 anos, foi preso em flagrante, mas será investigado em liberdade. O namorado detalhou a situação em um interrogatório à Polícia Civil. Segundo registro, o casal não estava brigado e mantinha um relacionamento havia cerca de 2 anos. Contudo, um mês atrás a jovem relatou que estava com sintomas de gravidez. Os dois decidiram fazer um teste de farmácia, que confirmou.
Na época, Ana marcou ultrassonografia com o namorado. Foi constatada a gravidez de 27 semanas de um menino. Durante uma conversa entre os dois, ela citou receio de prosseguir com a gestação e como contaria à família sobre o filho.
Ambos chegaram a consenso de não seguir com a gestação, ainda com base no relato, por conta da idade e “pouca e experiência”. Segundo o namorado afirmou, a vítima teria feito pesquisas sobre métodos abortivos. O rapaz relatou que chegou a falar sobre risco, mas que ambos concordaram com a compra da substância abortiva, que foi realizada pela vítima, no valor de R$1.400, via PIX.
A encomenda foi entregue na casa do rapaz. Os dois, então, combinaram de achar um local para aplicarem o produto. O lugar escolhido foi uma pousada no bairro Campolim, na Zona Sul de Sorocaba. O investigado detalhou que a vítima pegou as injeções e disse que tinha medo de aplicar. Em seguida, pediu ajuda ao namorado. Ainda de acordo com o relato, foram quatro aplicações na barriga. A "técnica" de como injetar o medicamento, segundo o rapaz, foi explicada pela pessoa que vendeu o produto à vítima.
Relato de dores
No dia seguinte, os dois foram trabalhar e, perto do fim do turno, a jovem contou que sentia dores de cabeça e cólicas. Ainda segundo o registro, os sintomas pioraram com o passar das horas e surgiram dores no estômago e vômitos.
Em determinando momento, Ana contou a ele: "minha barriga parece que vai explodir". Segundo o relato à polícia, a vítima questionou o namorado sobre pedir ajuda aos seus pais, e ele disse para manter a calma por achar que a situação não era grave. De acordo com o documento, a vítima insistiu em falar sobre o problema com a família e o namorado continuou pedindo para que não o fizesse.
Com um suposto parto da criança em casa, o investigado afirmou à polícia que sugeriu que namorada entrasse em contato com a técnica em vez de ir ao hospital. Durante a conversa, em meio às dores, a vítima lhe disse em seguida que a bolsa havia estourado e não teve resposta da suposta técnica. Questionado sobre o momento que a vítima queria falar com os pais, o interrogado disse que estava nervoso. Ao fim da noite, conforme ele, os dois conversaram rapidamente, mas a vítima informou que não poderia falar e tentava dormir.
Por volta das 4h de terça-feira (26), o namorado de Ana recebeu uma ligação da sogra sobre a morte.
Investigação
O rapaz foi preso em flagrante por crime contra a vida, que foi provocar aborto com o consentimento da gestante, e encaminhado para a delegacia de Votorantim.
Em seguida, passou por audiência de custódia na quarta-feira (27) e, como cedeu o aparelho celular, está colaborando com as investigações e não tem antecedentes criminais, foi solto e vai ser investigado em liberdade, segundo a Polícia Civil.
Ainda segundo a polícia, a perícia vai apontar qual foi a medicação usada pela jovem e vai periciar o celular do jovem.