O fechamento da fronteira terrestre do Brasil com a Venezuela, anunciado nesta quinta-feira pelo presidente venezuelano, Nicolás Maduro, foi antecipado por Caracas. Inicialmente agendado para as 21h (horário de Brasília), o fechamento aconteceu por volta das 15h desta quinta-feira, como confirmou o governador do estado de Roraima, Antonio Denarium, em Brasília.
— Eu decidi que, a partir das 20h (21h de Brasília) deste 21 de fevereiro, fica fechada total e completamente, até novo aviso, a fronteira terrestre com o Brasil — afirmou Maduro em uma reunião com o alto comando militar em Forte Tiuna, quartel de Caracas que serve como sede do Ministério da Defesa venezuelano. — Quero que seja uma fronteira dinâmica e aberta, mas sem provocações. Porém sou obrigado a garantir a paz.
A tensão política na Venezuela começa a se concentrar nas fronteiras do país sul-americano, onde os líderes da oposição ao governo de Maduro prometem receber os primeiros carregamentos de ajuda internacional solicitados pelo líder da oposição Juan Guaidó, a partir do próximo sábado através da Colômbia, do Brasil e da ilha de Curaçao, apesar da objeção do Palácio de Miraflores. Maduro também disse nesta quinta que avalia fechar a fronteira com a Colômbia.
Durante seu discurso, Maduro não poupou críticas ao presidente colombiano, Iván Duque.
— Responsabilizarei Iván Duque por qualquer tipo de violência que aconteça na fronteira — afirmou o presidente venezuelano. — Ele ligou para (o presidente americano, Donald) Trump e disse que os militares colombianos se negam a tomar parte numa agressão a nosso país.
O presidente também alertou que os artistas que se apresentarão na Colômbia — no chamado “Live Aid venezuelano” — devem ter em mente que estarão “cometendo um delito” por darem seu aval a uma agressão internacional à Venezuela.
Na noite de quarta-feira, Maduro já começara a mobilizar tropas e veículos militares na fronteira entre seu país e o Brasil, reagindo ao inesperado anúncio de participação brasileira na entrega da ajuda. Alimentos e remédios deverão ser enviados pelo governo brasileiro através de Roraima, enquanto os Estados Unidos poderão doar insumos médicos, como gaze e seringa,
Conforme informou o governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) na última terça-feira, militares brasileiros não participarão da operação. A ideia é que caminhões dirigidos por venezuelanos entrem no Brasil pela cidade de Pacaraima para levar a ajuda de volta à Venezuela.
A ponte Tienditas, uma das que ligam os territórios colombiano e venezuelano, também foi já bloqueada por militares, assim como foram suspensas as partidas de todos os portos do país até domingo, 24 de fevereiro.
Ainda não está claro como acontecerá a prometida entrega de suprimentos necessários à população venezuelana, que enfrenta uma crise de escassez de alimentos e remédios, provocada pela falta de divisas e pela hiperinflação. Dezenas de toneladas de suprimentos enviados pelos Estados Unidos já estão em Cúcuta, na Colômbia, que será o principal ponto da operação.
A escassez na Venezuela de alimentos e remédios é efeito de uma crise econômica precipitada em 2013 pela queda do preço do petróleo, principal produto de exportação do país. A crise, agravada por sanções econômicas americanas, provocou uma queda do PIB de 54% em quatro anos. Carente de divisas, o país deixou de importar produtos básicos, e a inflação, que chegou a mais de 1.000.000% no ano passado, corroeu o poder de compra dos salários.