Os metais são apenas alguns dos itens reaproveitáveis existentes no lixo eletrônico, o chamado e-lixo. Nele, ouro, prata, ferro, cobre e platina estão ao alcance de quem sabe onde procurar. Uma parceria entre a Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP), da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e duas cooperativas de reciclagem está promovendo o reaproveitamento de um material que tinha apenas como destino o lixo.
A iniciativa começou há quatro meses e é tocada pela Cooperativa Popular Amigos do Meio Ambiente e pela Cooperativa Céu Azul. A destinação adequada para fios, placas, capacitores e processadores ainda é um transtorno em boa parte do país, mas algumas iniciativas, como esta, mostram que é possível criar uma boa fonte de renda.
Num galpão em Maria da Graça, nove recicladores trabalham com o e-lixo. Em cima das mesas, os computadores são desmontados pelos "garimpeiros digitais". A carcaça de ferro, os revestimentos de plástico, a tela do monitor, placas e fios, tudo é aproveitado. O material é separado e vendido para empresas que vão reciclar esses componentes.
Até pouco tempo, Sandra Mello, de 59 anos, nem imaginava que a sucata digital poderia significar trabalho e renda. Com uma luva na não esquerda e na direita uma alicate, ela desempenha com habilidade a desmontagem de computadores.
? É uma questão de jeito.
Antes de trabalhar com lixo eletrônico, Sandra separou material para reciclagem por três anos. Nessa época, segunda ela, o trabalho era mais duro e o dinheiro, mais curto. Hoje, ganha cerca de R$ 800 por mês. Se os planos de crescimento derem certo, a renda dos recicladores poderá dobrar até o fim do ano. Tudo isso, graças ao e-lixo.
? Jamais poderia imaginar que um computador tem até ouro ? diz ela.
Segundo o presidente da Cooperativa Céu Azul, Luiz Cláudio Lima, boa parte dos computadores que recebem é proveniente de doações feitas por empresas.
Depois que passam por Silmária e pelos demais recicladores, as placas são compradas por empresas que as trituram. Algumas chegam a ser vendidas a R$ 12 o quilo, enquanto outras valem alguns centavos. Em seguida, elas são exportadas para a China ou para a Bélgica. Nesses países, um processo de separação de metais consegue transformar o lixo em matéria-prima para novos aparelhos eletroeletrônicos.
? A ideia é expandir isso para vinte e duas cooperativas de reciclagem. Estamos tirando esse lixo do meio ambiente, gerando renda e reinserindo esse material como matéria-prima ? explica Gonçalo Guimarães, coordenador do ITCP.
Pelo mundo
Total usado
Segundo entidades ligadas à ONU, 320 toneladas de ouro e sete mil de prata são usadas anualmente para a produção de computadores, tablets e celulares.
Quanto vale
O valor dos metais empregados soma US$ 21 bilhões a cada ano.
Aproveitamento
Quando os aparelhos são descartados, menos de 15% do ouro e da prata são recuperados, diz o estudo.
Capacidade
O lixo eletrônico mundial contém "depósitos" de metais preciosos de 40 a 50 vezes mais ricos do que os contidos no subsolo.
Uma tonelada
Segundo a UFRJ, uma tonelada de e-lixo gera 350 quilos de ferro, 170 de cobre, 150 de fibras e plásticos, 70 de alumínio, 50 de papel, 40 de zinco, 40 de resíduos não recicláveis, 25 de chumbo, 300 gramas a 1 quilo de prata, 300 gramas de ouro e 30 a 70 gramas de platina.