O ex-boxeador Donizeti Machado Junior, de 39 anos, que trabalha como estivador e diz ter sido demitido por ser homossexual, afirma que o desentendimento aconteceu no momento em que ele colocou o companheiro como dependente no plano de saúde fornecido pela empresa Santos Brasil, em Santos, no litoral de São Paulo. Segundo ele, um funcionário do departamento de Recursos Humanos teria afirmado que o trabalhador poderia colocar o nome até de um cachorro, mas não o de outro homem.
De acordo com Donizeti, ele é estivador e realiza serviços avulsos desde 1991. Em março, ele conseguiu uma colocação na Santos Brasil, após passar por diversas etapas para ser admitido. ?Sempre levei a empresa muito a sério e trabalhava nela há menos de um mês, mas o tratamento mudou quando souberam da minha opção sexual?, diz.
Ele afirma que o problema começou no momento de assinar o plano de saúde fornecido pela empresa. ?Coloquei o meu companheiro como dependente no seguro de vida, mas a empresa disse que não aceitaria colocar duas pessoas que têm união estável. Chegaram a me dizer que poderia colocar até o nome de um cachorro como beneficiado, mas não o de outro homem?, lembra.
Donizeti diz que foi demitido no dia 12 de abril, quando estava a bordo de um navio, a serviço da empresa. Ele foi chamado e posteriormente escoltado por dois seguranças até uma sala, onde teria sido forçado a assinar os documentos da própria demissão. ?Me disseram que eu fugia dos padrões da empresa, que ela não poderia aceitar essa conduta, que a empresa tem um nome a zelar?, explica.
Donizeti diz que esta é a primeira vez que sofre preconceito por ser homossexual. ?Todos os meus colegas sabiam da minha opção sexual, mas sempre respeitaram. Infelizmente, a empresa me demitiu pelo fato de ser homossexual. Eu tenho 30 cursos pela Marinha de Guerra, 23 anos no Porto de Santos e não vou deixar isso barato. Eu vou correr atrás da Justiça. Não quero que ocorra com outros funcionários o mesmo que aconteceu comigo?, declara.
O companheiro de Donizeti, o professor de dança Maycon Lopes Simões, diz estar inconformado com o caso e irá até o fim buscando a Justiça. ?Incrível como isso ainda exista em pleno século 21, preconceito, uma coisa tão cretina. Comigo isso nunca ocorreu, sempre fui muito respeitado e achei o cúmulo uma empresa tratar um funcionário assim?, afirma.
Entramos em contato com a Santos Brasil, que confirmou o desligamento do portuário, porém refuta a acusação de que tal ato esteja ligado à opção sexual do ex-funcionário. A empresa repudia qualquer acusação de homofobia e informa que possui em seu quadro funcional profissionais com relacionamentos homoafetivos, cujos companheiros estão devidamente inclusos como dependentes em plano de saúde e outros benefícios sociais.