Maior empresa brasileira, com um faturamento anual de 205 bilh?es de reais, a gigante Petrobras sempre foi uma presa atraente para as matilhas de corruptos que vivem em busca de neg?cios f?ceis e do dinheiro p?blico. Mas nunca um ataque aos cofres da estatal havia sido revelado e esquadrinhado com detalhes t?o impressionantes quanto na semana passada. Quando veio ? tona a opera??o ?guas Profundas, da Pol?cia Federal, o que se viu foi um esquema constru?do dentro de seus corredores, nos quais os fraudadores circulavam com incr?vel desenvoltura.
Os s?cios Mauro Zamprogno, Fernando St?rea, Wladimir Gomes e Simon Clayton formaram a Angraporto especificamente para participar de concorr?ncias na Petrobras e cooptaram funcion?rios da estatal do petr?leo para sangrar seus cofres. Durante quatro anos, a partir de julho de 2003, eles obtiveram vantagens em cinco licita?es, cujo valor total chega a 239 milh?es de reais, pelo que se sabe at? agora. O esquema, embora milion?rio, ? pequeno comparado ? m?dia anual dos investimentos da companhia, de 32 bilh?es de reais. As licita?es nas quais se encontraram provas de irregularidade foram feitas para servi?os como reparos em plataformas antigas, constru?das na d?cada de 80. O que impressiona ? o poder que a quadrilha tinha de interferir em cada detalhe dos editais. A opera??o pode ser o fio da meada para se chegar a esquemas muito maiores nas entranhas da estatal.
Mesmo sujeita a auditorias permanentes, em raz?o de ter a?es em bolsas internacionais e de ser uma empresa de economia mista, a Petrobras conjuga dois fatores que s?o o objeto de desejo de qualquer empres?rio mal-intencionado: verbas monumentais e a dificuldade de fiscaliza??o de uma estrutura t?o complexa. A opera??o, desencadeada pelo Minist?rio P?blico Federal em 2005, contou com a ajuda da auditoria interna da empresa.
A dire??o da Petrobras colaborou com os policiais no processo de investiga??o e, em nota oficial, esclareceu que s? n?o agiu antes contra os suspeitos para "n?o prejudicar o curso das investiga?es". Segundo o procurador Carlos Alberto Aguiar, os t?cnicos n?o se limitaram a atender a pedidos de esclarecimentos. Eles mesmos trouxeram informa?es que revelaram novas fraudes. Mas o fato ? que as maracutaias ocorriam desde 2003 sem que se tivesse not?cia delas. O caso s? se tornou conhecido depois de uma den?ncia ao Minist?rio P?blico Federal.
Em um dos processos investigados, flagrou-se a quadrilha mudando detalhes no edital j? publicado, para criar obriga?es que somente a empresa do esquema poderia cumprir. Bastou uma redu??o de 77 cent?metros no calado (altura da linha-d"?gua em rela??o ao fundo do mar) do cais para que a Angraporto pudesse participar da concorr?ncia. Em outra demonstra??o de seu poder de fogo junto aos funcion?rios da comiss?o de licita??o, a Angraporto conseguiu que se modificasse um trecho do edital em que se exigia que o ganhador tivesse um cais para atracar a plataforma.
Para adequar o edital ?s possibilidades da Angraporto, mudou-se a exig?ncia para "?rea abrigada". Al?m de fraudar licita?es, a quadrilha simulava a necessidade de reparos t?cnicos, que eram pagos mediante a apresenta??o de notas frias. Para dificultar a fiscaliza??o, criou pelo menos cinco empresas-fantasma, pelas quais transitavam o dinheiro a caminho das contas dos empres?rios e as propinas pagas aos funcion?rios da estatal, dois deles j? demitidos. O pagamento tamb?m era feito em viagens internacionais e em presentes caros, como autom?veis.
Durante os ?ltimos dois anos, enquanto investigava o que acontecia nos corredores da comiss?o de licita??o, as escutas telef?nicas da PF flagraram a desinibida euforia com que os empres?rios comemoravam o assalto ao dinheiro da estatal. De todas as conversas ouvidas por policiais e procuradores, uma chama aten??o. Nela, Mauro Zamprogno vangloria-se de ter pago 4.000 reais por uma garrafa de vinho em um restaurante. N?o foi a ?nica da noite, embora as demais custa