O funcionário público Marcus Vinícius, 40 anos, tinha tudo programado para passar as férias de junho do ano passado em Orlando, nos Estados Unidos, junto com a esposa, a filha, de apenas seis anos de idade, e um casal de amigos. Era a primeira viagem internacional da família que pretendia se divertir nos parques temáticos da Disney. Isso mesmo, pretendia, porque surgiu a pandemia do novo coronavírus e frustrou toda a expectativa.
“Iríamos passar dez dias por lá. Tínhamos já comprado tudo, inclusive as entradas dos parques. Porém, em março surgiu a pandemia e os aeroportos foram fechados em todo o país e logo após os Estados Unidos, também, proibiram a entrada dos brasileiros”, destacou Marcus, pontuando, porém, que não ficou no prejuízo. “Fiquei com os créditos das passagens compradas, o hotel me ressarciu todo o valor gasto. Já quanto aos ingressos da Disney tenho que usá-los até o final deste ano”, detalhou.
O exemplo dessa família piauiense não é único. Influenciados pela pandemia da Covid-19, os aeroportos de todo o mundo fecharam e milhares de passageiros, também, tiveram que cancelar os voos. O vírus paralisou o mercado de viagens aéreas no Brasil, bem como no Piauí, por praticamente dois meses e diminuiu drasticamente a demanda no restante do ano. Resultado disso, uma queda de 48,7% na movimentação de passageiros ano passado, em comparação com 2019, conforme boletim estatístico da Infraero.
No Piauí, os dois aeroportos que são administrados pela empresa pública federal registraram reduções acentuadas e bem maiores que a média nacional. No aeroporto Senador Petrônio Portela, em Teresina, a queda foi 96,4%, ou seja, o dobro do índice brasileiro. Já no aeroporto internacional Prefeito João Silva Filho, em Parnaíba, no litoral piauiense a diminuição de fluxo de passageiros foi de 162%, no mesmo período analisado, o triplo do nacional.
Apesar da queda percentual ser maior no aeroporto de Parnaíba, em números absolutos o aeroporto da capital foi bem superior, até porque ele é a principal porta de entrada, via aérea, no Estado. De acordo com os dados da Infraero, ao longo de 2020 foram registradas 607.965 chegadas ou partidas de passageiros em Teresina. Essa foi a primeira vez em uma década que o fluxo ficou abaixo de um milhão de passageiros, quando em 2010 fechou com 797.979 pessoas embarcando ou desembarcando na capital. Em 2019, antes da pandemia atingir o país, foram 1.194.020 passageiros utilizando o aeroporto de Teresina.
Já no litoral piauiense, a pandemia praticamente cancelou todos os voos, fazendo com que o fluxo de passageiros no aeroporto internacional caísse de 12.865 em 2019, para menos de 5 mil no ano passado. Resultado pior que esse foi alcançado apenas no longínquo ano de 2012, quando o aeroporto recebeu menos de 3 mil passageiros. Porém, naquele ano, o aeroporto de Parnaíba ainda estava passando por reforça, só recebendo dimensão internacional e reforço infraestrutural na pista três anos depois, em 2015.
A queda no número de pousos e decolagens de aeronaves também foi registrado entre os anos analisados, saindo de 12.474 voos para menos de 8,3 mil voos registradas no aeroporto de Teresina. Apesar disso, há sinais de retomada na demanda por viagem de avião. De novembro para dezembro do ano passado, por exemplo, já houve um crescimento quase 18% na movimentação de passageiros na capital piauiense. Em Parnaíba, essa alta foi um pouco menor: 11%.
Para a direção da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), a retomada do setor deve acompanhar a evolução da pandemia e da vacinação contra a Covid-19 no país. Segundo artigo publicado no site da entidade, o setor vem tomando uma série de linhas de enfrentamento, como a revisão de contratos e custos, bem como acordos com todos os sindicatos de colaboradores para manter os empregos; e, também, a parceria e o diálogo com diversos órgãos da União para manutenção dos voos e em alguns lugares ampliação.
“Por meio desse diálogo, foi possível construir soluções como um programa de remarcação de passagens aéreas sem custos para os passageiros, a manutenção de uma malha essencial para manter o país conectado, o estacionamento das aeronaves em pátios civis e militares, entre muitas outras”, pontuou o artigo.
Já a Infraero, por meio de nota, informou que a empresa tem adotado as determinações da Anvisa e divulgado, por meio de uma campanha de orientação, as medidas de distanciamento social, uso de máscara e higienização de mãos. Os terminais de passageiros estão sinalizados e têm veiculado mensagens audiovisuais com esses alertas.