“Fria como um bloco de gelo e quente como o sol”. É assim que o produtor e editor de moda Marco Antônio Ferraz define Flordelis, de quem foi amigo por mais de uma década. Ele conta que ainda não consegue digerir os desdobramentos que levaram a polícia a concluir que a pastora foi a mandante do assassinato do marido, o pastor Anderson Do Carmo, em 16 de junho de 2019.
“Nunca vi nada que me provasse que eles não se amavam. Convivi com a família. Sei o nome de cada um dos 55 filhos. Tudo isso é muito chocante. Mas acredito nas investigações”, analisa.
Três dias antes da morte de Anderson, Marco encontrou o casal pela última vez. Ele produziu uma sessão de fotos para as redes sociais de ambos. Segundo testemunhas, os dois estavam felizes e não tinha clima de desavença entre eles.
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Meses antes das fotos, Marco havia se afastado de Flordelis para fazer um tratamento de saúde e iniciar um projeto no teatro. “Estava focado em outra direção e tinha me distanciado da Flor porque não nos entendemos numa questão e decidi dar um tempo. Nos encontramos nesse trabalho e três dias depois acordo com a notícia do assassinato. Nem fui ao enterro”, recorda ele, que dirigiu o filme sobre a vida de Flordelis.
Marco conviveu de perto com a deputada e frequentava sua casa em Niterói. “Me lembro que o pastor Anderson era louco por ela. Nunca o vi olhando para o lado ou ouvi qualquer fofoca sobre amante, nada disso. Ele era um homem assustadoramente inteligente e dava o mundo para a Flor se ela quisesse”, relata.
Marco diz que ele e Flordelis nunca falaram sobre a morte de Anderson. “Apenas uma vez, na casa dela, para um outro trabalho, a Flor me viu parado na porta e disse: ‘ele morreu bem aí onde você está’. E foi muito fria. Não estranhei. Era difícil saber o que ela sentia ou pensava. Era assim também nas ações para salvar gente das mãos de bandidos. Sempre muito racional”, descreve.
Um dos filhos de Flordelis, que já não morava mais na casa dos pais adotivos, diz que eles eram muito unidos, mas que a mãe não era dada a arroubos de paixão. Ele estranhou a reação de Flordelis no enterro de Anderson: “Ela se debruçou, se jogou no chão... Não era de fazer isso. Detestava ficar amassada, não gostava de se sujar. Aquilo foi esquisito”.
A cada mês da morte do marido, Flordelis prestou homenagens ao pastor. Com textos e vídeos no Instagram em memória dele e da relação que tiveram, sempre demonstrando sofrimento pela ausência do companheiro. Um mês antes do assassinato, os pastores fizeram uma viagem para a Europa. Pregaram em Bruxelas, na Bélgica, e tiveram uma espécie de segunda lua de mel. Apenas os dois. “Se a Flor quisesse um avião, o pastor Anderson iria dar um jeito de dar o melhor que existisse para ela. Tudo que Flor precisava, ele buscava o melhor, não media esforços ou dinheiro. É difícil entender o que aconteceu”, aponta Marco, que não voltou a procurar Flordelis.