Difícil não se emocionar com “Niède”. A arqueóloga, que mostrou as figuras rupestres da Serra Capivara, no Piauí, para o mundo e desafiou os estudos sobre a ocupação da América com seus achados de mais de 50 mil anos, quebrou paradigmas. A cinebiografia da ativista chega ao festival “É tudo Verdade”, principal mostra de documentários da América Latina, com a mesma ambição.
O filme faz você reviver, junto com Niède Guidon, a sua chegada ao Piauí, as primeiras descobertas e toda a magia das cores da Serra da Capivara. A poesia nas entrelinhas do roteiro levou o público às lágrimas, ao riso e à certeza de que essa mulher não foi só grande, mas tornou o Piauí maior. Niède acessa a capacidade do ser humano de se reinventar, de superar desafios e de fazer o melhor - pelos outros e pela natureza.
Sob aplausos na sessão de estreia da mostra que aconteceu na quinta-feira (5), em São Paulo, o diretor Tiago Tambelli consegue, com competência, colocar o espectador dentro da linha do tempo da personagem, contando, inclusive, com trechos de filmagens das primeiras expedições, como a pesquisadora desbravou a Caatinga do sertão piauiense e transformou a região não só colocando-a no mapa-múndi da arqueologia, mas com seu ativismo social.
“O documentário é um misto de ciência e história. Conta a trajetória de uma mulher que dedicou a vida inteira à pesquisa e preservação da Serra da Capivara. Niède impactou positivamente muitas pessoas e continua impactando até hoje com o seu jeito forte, mas também doce e carinhoso, portanto, contar a sua história é também contar a história da humanidade”, destaca Tambelli.
São 135 minutos de um roteiro envolvente, que cativa não só pela história de grandeza de Niède, mas pela riqueza da caatinga e exuberância da Serra da Capivara. Na primeira fileira de cadeiras da sala de exibição do Instituto Moreira Salles, onde acontece o festival, o governador Wellington Dias celebra o sucesso do filme e exalta a produção.
"É uma alegria e emoção estar aqui e ver todo interesse. Cinco minutos já se esgotaram os ingressos para ver o filme de Niède, a história dessa arqueóloga que ainda muito jovem escolheu a região de São Raimundo Nonato, a Serra da Capivara, para as suas pesquisas. Isso abriu um caminho para o Piauí, para o Nordeste, para o Brasil, dentro de um cenário internacional. Pesquisas revelam ali a presença mais antiga do homem nas Américas, chegando a alterar o conceito de que a ocupação desse continente se deu pela América do Norte. Estou muito feliz e torcendo pela premiação do filme do Tiago, Niède".
A deputada federal Margarete Coelho exaltou o trabalho da arqueóloga para a história da humanidade.
"A professora Niède tem uma história maravilhosa ligada ao Piauí. A vida dela se confunde muito com toda a história do nosso Estado. O Parque Nacional Serra da Capivara é uma joia raríssima, só há aqui no Brasil; temos a maior pinacoteca, tudo isso, a natureza e nossos ancestrais deixaram. Mas seu trabalho, sua pesquisa, o que isso representa para a humanidade é fantástico, é emocionante e merece todos os nossos aplausos", disse.
Produção aposta no incremento do turismo
A produção executiva do filme foi comandada por André Pessoa, Bárbara Nepomuceno, Inês Figueiró, Talyta Magno, Fátima Guimarães e Fernanda Lomba, teve financiamento do Governo do Estado, através da Agência Nacional de Cinema (Ancine), por meio da Lei de Incentivo ao Audiovisual, e foi executada pelas produtoras Lente Viva Filmes, de São Paulo e B & T Audiovisual, de Teresina, em um verdadeiro intercâmbio cultural. Foram dois anos de pesquisa, produção e filmagens.
Para André Pessoa, o longa será uma vitrine para Piauí. “O filme “ Niède” será um diferencial para o desenvolvimento do turismo na região do Parque Nacional da Serra da Capivara. Muitos conhecem a história da Niède Guidon, por pequenas matérias na TV ou reportagens no jornal, mas o filme mergulhou profundamente na vida dela, na pesquisa científica e em todo o legado que ela construiu. Além de fazer a divulgação de um Piauí positivo, esse filme vai ajudar no desenvolvimento do Estado, através do incremento do turismo e da geração de novas oportunidades de trabalho. É um cartão-postal que será mostrado para o mundo, com uma imagem de desenvolvimento na ciência e de um turismo diferenciado”, destaca Pessoa, que tem 25 anos de fotografia dedicados ao Piauí e é um dos principais entusiastas da Serra da Capivara.
O deputado estadual Fábio Novo também marcou presença na estreia e destacou a importância do incentivo ao cenário cultural e audiovisual.
"Precisamos ter uma política de cultura para o audiovisual. Este é o segundo filme do Piauí, em três anos, que consegue transpor as barreiras do Estado. O primeiro foi Torquato, que participou de vários festivais e recebeu nove prêmios em todo o Brasil. Nesse momento que o Parque Nacional Serra da Capivara completa 40 anos de criação - que vai acontecer no dia 5 de junho, estaremos em São Raimundo Nonato. É um momento que eu acho que é justo para homenagear todo o legado de Niède Guidon, nesses 40 anos de pesquisa. Niède já está com 86 anos e ela merece esse registro em vida. Estamos coroando todo um trabalho de quatro décadas, afinal de contas, acabamos de ganhar um Museu da Natureza, que ela idealizou e coroa agora, com o registro, com o filme", ressaltou.
Próximas exibições
Após apresentação no Festival, que também haverá exibição no Rio de Janeiro, o longa segue uma carreira de festivais em que está inscrito e será exibido na Serra da Capivara nos dias 5 e 6 de junho, quando é comemorado o Dia Mundial do Meio Ambiente e os 40 anos do Parque. Em São Raimundo Nonato, a sessão acontece no dia 7 de junho.