Em depoimento à polícia, um amigo de Marcelo Pesseghini disse que numa ocasião o garoto contou que havia tentando dar uma flechada na avó, mas não tinha conseguido. O menino de 13 é suspeito de matar a família e depois se suicidar na Brasilândia, Zona Norte de São Paulo, no início deste mês.
Outro depoimento revelou que um dia Marcelo chegou à escola orgulhoso e contente dizendo ?hoje meu pai matou dois bandidos?. Uma funcionária da escola que também já depôs, revelou que os pais foram chamados e advertidos que não deveriam fazer esse tipo de comentário perto dele.
No dia do crime, Marcelo estava cabisbaixo dentro da sala de aula, e um dos amigos perguntou, brincando: "tentou matar a avó de novo e não conseguiu?" Marcelo respondeu "não, hoje consegui". Um dos meninos disse também que naquele dia antes de entrar na sala de aula, Marcelo foi pra uma roda de amigos e disse ?hoje matei meus pais?.
Câmeras de segurança gravaram Marcelo saindo da escola no dia que a polícia acredita que ele tenha cometido os crimes. Amigos que já prestaram depoimento ajudaram a polícia a traçar um perfil do menino. Um dos garotos falou que um dia Marcelo chegou à escola com um ferimento no rosto. O amigo perguntou o que era. Ele disse que havia atirado com uma pistola ponto quarenta, e o tranco da arma o machucou. Ponto quarenta foi a arma usada contra toda a família.
Médica
A pneumologista Neiva Damaceno, que acompanhou o tratamento de Marcelo Pesseghini, de 13 anos, contra a fibrose cística, prestou depoimento nesta quinta-feira (22) na polícia e reafirmou que nem a doença nem os remédios poderiam provocar alterações no comportamento do garoto. Ele é suspeito de matar a família e depois se suicidar na Brasilândia, Zona Norte de São Paulo, no início deste mês.
O Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) queria saber se o uso contínuo de medicamentos poderia ter contribuído para os crimes. O depoimento dela terminou por volta das 13h na sede do departamento, no Centro. "O que eu disse foi exatamente o que eu venho dizendo para muitos de vocês. Os medicamentos não causam nenhuma alteração no comportamento. Tampouco a doença", disse a médica ao deixar o DHPP acompanhada de dois advogados.
A pneumologista acompanhou o tratamento de Marcelo contra a doença desde a sua infância na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Em entrevista, ela já havia adiantado o que iria declarar aos investigadores. Mais de 30 pessoas já foram ouvidas pela polícia para tentar esclarecer o caso.
?Os medicamentos que tomava não tinham implicação ou efeito colateral. Os remédios não mudaram seu comportamento ou lhe trouxeram transtornos psicológicos. Essa doença também não comprometia o desenvolvimento neurológico ou mental. Também não há relato de uso de droga, de anormalidade de comportamento?, disse a médica nesta quarta.
O adolescente é apontado pelo DHPP como o principal suspeito dos disparos que mataram seus pais, o sargento das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) Luís Marcelo Pesseghini, de 40 anos, e a cabo Andreia Regina Bovo Pesseghini, de 36 anos, a avó materna Benedita de Oliveira Bovo, de 67 anos, e a tia-avó Bernadete Oliveira da Silva, de 55 anos. Os crimes foram cometidos nas casas de um mesmo terreno onde todos moravam. O motivo dos assassinatos e do suicídio ainda não são conhecidos.
Medicamentos
Entre os medicamentos que Marcelo tomava estavam vitaminas, insulina injetável e outros remédios. A fibrose cística é uma doença genética que afeta o funcionamento de secreções do corpo, levando a problemas nos pulmões e no sistema digestivo. Ela não tem cura e pode levar à morte precoce. Quando era bebê, alguns médicos teriam dito aos pais que ele não sobreviveria até os 4 anos. A polícia investiga se os crimes poderiam estar relacionados à doença do garoto, que teria pouca expectativa de vida.
?Ele não corria nenhum risco de morrer. Estava ótimo. Chegou à segunda década de vida em condições excelentes de saúde?, disse a médica que atendeu Marcelo pela última vez duas semanas antes do crime.
Questionada pela equipe de reportagem se ela acredita na versão apresentada pela polícia de que foi seu paciente que assassinou a família e se matou em seguida, Neiva respondeu: ?Para mim ainda é inexplicável. Foi um susto, um choque, uma surpresa?.
Segundo a médica, Marcelo ia para o tratamento na Santa Casa acompanhado da mãe e da avó materna e, eventualmente, pelo pai. ?Me lembro de um menino educado, sorridente, carinhoso que nunca teve transtorno de comportamento?, disse Neiva.