Autor da gravação no Palácio do Jaburu do presidente Michel Temer usada na denúncia engavetada pela Câmara dos Deputados nesta quarta-feira, o empresário Joesley Batista assistiu à sessão na companhia de executivos na sede do grupo J&F, em São Paulo. Projeções davam conta de que Temer obteria resultado favorável, ainda assim o empresário tratou o episódio como "trágico" para o país.
— O dia 2 de agosto ficará marcado como o dia da vergonha — disse Joesley a um interlocutor durante a tarde, quando o voto contra a continuidade das investigações já era maioria no placar da Câmara dos Deputados. Por meio de nota, o grupo J&F informou que não se manifestaria.
A denúncia de corrupção passiva contra o presidente Temer foi embasada por informações e gravações trazidas pela colaboração premiada assinada pelos irmãos Batista e executivos do grupo com a Procuradoria-eral da República (PGR), no início do ano.
O presidente é acusado por Joesley de ser o destinatário final de propina paga por ele ao então braço direito de Temer, o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR).
Com o acordo de delação, Joesley conseguiu o compromisso da PGR de que não será preso nem obrigado a usar tornozeleira eletrônica. Foi o mais vantajoso acordo firmado na Lava-Jato até o momento.
O empresário e o Grupo JBS haviam sido alvos desde o ano passado de cinco operações da Polícia Federal, que investigavam fraudes e irregularidades em concessões de créditos e empréstimos e também no funcionamento de frigoríficos.
Nos próximos dias, advogados da empresa deverão entregar mais informações à PGR. Pessoas próximas à equipe que cuida do trabalho já contabilizam mais de 20 novos anexos com dados sobre episódios de corrupção que ainda não foram levados ao Ministério Público, com novos nomes de investigados.
No acordo inicialmente homologado pela Justiça, os irmãos Wesley e Joesley Batista e cinco executivos apresentaram 44 anexos aos procuradores, que mencionam pagamentos a 1.829 políticos de 28 partidos, por meio de doações oficiais, caixa 2 eleitoral ou propina em troca de benefícios em órgãos públicos. Os novos anexos vão detalhar benefícios à empresa obtidos no Ministério da Agricultura, por exemplo.
A expectativa é que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresente novas denúncias contra o presidente Michel Temer, tendo como base outras informações trazidas pela J&F. Janot vai deixar o cargo em setembro. Temer também é investigado por formação de organização criminosa e tentativa de obstrução à Justiça.
Gravação indica que ele incentivou a compra do silêncio do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Se confirmada a nova denúncia, o trâmite na Câmara dos Deputados se repetirá.
Terça-feira, Janot disse em entrevista que as investigações na PGR continuam independentemente da votação no Legislativo. Ele não quis dizer quando apresentará novas denúncias.
— A Câmara é a Câmara, o Ministério Público é o Ministério Público, o Judiciário é o Judiciário — afirmou, na ocasião.