A Secretaria de Estado da Saúde Pública do Rio Grande do Norte (Sesap) informou que está investigando dois casos suspeitos de febre amarela em macacos. Um dos animais analisados é um sagui de tufo branco, de nome científico callithrix jacchus, que morreu em Natal no dia 8 de dezembro.
A Sesap foi comunicada pelo Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz/RJ) sobre o resultado sugestivo de febre amarela no sagui. Em 18 de janeiro, um outro animal, proveniente do município de Espírito Santo, na Região Agreste do RN, apresentou o mesmo resultado sugestivo.
Mesmo que não sejam os macacos os responsáveis pelo surgimento da febre amarela, é senso comum suspeitar que a morte desses animais sirva como forma de controle contra a doença grave que chega a matar 30% das pessoas infectadas.
O biólogo Osmaikon Lobato, que faz parte de equipe de vigilância de epizootias no estado do Piauí, ressalta que os macacos não transmitem febre amarela e que eles são tão vítimas quanto os humanos. Além disso, esses primatas são importantes agentes para contenção da doença, pois servem como indicador biológico da Febre Amarela.
“Os macacos funcionam como sentinelas para a Febre Amarela, servindo como guias para a elaboração de estratégias de mitigação. Assim como nós, eles são afetados pelo vírus. A identificação de macacos mortos ou doentes nos permite desenvolver estratégias de controle capazes de evitar que o vírus chegue até os humanos, mas para que isso aconteça é importante que as populações de macacos se mantenham em seu ambiente natural que, como sabemos, está sendo cada vez mais devastado pelo avanço do desmatamento”, explicou.
A febre amarela se enquadra como uma doença infecciosa aguda, de rápida evolução e elevada letalidade nas suas formas mais graves, cujo agente etiológico é um arbovírus protótipo do gênero Flavivirus, da família Flaviviridae. “A doença pertence à mesma família viral que outros arbovírus (vírus transmitidos por vetores artrópodes, principalmente mosquitos), como o vírus da Dengue, Zika, Febre do Nilo, dentre outros; e se caracteriza como uma Zoonose, ou seja, tem animais envolvidos no ciclo de transmissão”, falou.
Osmaikon destaca que há dois diferentes ciclos epidemiológicos de transmissão, o silvestre e o urbano. Entre os grupos de primatas mais afetados estão os bugios e saguis.
“Os hospedeiros primários são os macacos e a transmissão se dá principalmente por mosquitos do gênero Haemagogus (quando ocorre em áreas florestais) e pelo Aedes aegypti (no meio urbano), o mesmo transmissor do vírus da Dengue”, contou.
Os animais acometidos pelo vírus adoecem e morrem da mesma forma que os humanos. A prevenção em humanos à febre amarela pode ser feita em duas frentes: por meio da vacinação e da contenção do avanço do mosquito.
“Para combater a Febre Amarela, a principal ferramenta disponível é a vacina. Porém, outras medidas podem ser adotadas para evitar novas infecções, como eliminar criadouros de mosquitos, usar repelente e mosquiteiro, além de sensibilizar a sociedade sobre a importância dessas medidas”, comentou o biólogo.
Embora o Teresina ainda não tenha registrado casos de animais infectados pelo vírus da Febre Amarela, as notificações suspeitas e confirmadas em outras cidades fora do Piauí já servem de alerta. Um grupo de pesquisadores composto pelo biólogo Osmaikon Lobato e a Professora Drª. Lilian Catenacci, responsável pela disciplina de Clínica e Manejo de Animais Silvestres da Universidade Federal do Piauí (UFPI), desenvolve estudos que visam investigar a circulação de arboviroses em animais silvestres, com o intuito de melhorar a vigilância para essas doenças aqui no Piauí.
Histórico da doença
Após aproximadamente meio século de silêncio epidemiológico, o vírus da febre amarela voltou a ser detectado no ano 2000, no Estado de São Paulo. Desde a sua reintrodução, foram reportados quatro surtos, com mais de 600 casos confirmados. Eventos epidêmicos da doença também foram registrados, a partir de 2014, em Goiás e Tocantins, e seguiram no sentido dos estados do Sudeste e Sul.
No município de São Paulo, em 2018, foram confirmados 121 casos da doença, sendo que, destes, 107 foram casos importados e 14 autóctones. Já em 2019 e 2020, a cidade teve, respectivamente, três e um caso confirmado. Em 2021 e 2022, a cidade não registrou nenhum caso da doença.