A pandemia de Covid-19 deflagrou uma epidemia de uso irracional de medicamentos. Conforme apurado pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF) com dados da consultoria IQVIA, nos 12 meses subsequentes ao registro do primeiro caso da doença no país, as vendas de alguns fármacos vinculados à prevenção ou cura da doença, mesmo sem a comprovação de que sejam eficazes para esse fim, chegaram a aumentar 857%, caso da ivermectina.
Para estimular a logística reversa das milhões de unidades vendidas e não utilizadas desses e de outros medicamentos, o CFF criou uma ferramenta que faz a ponte entre quem precisa descartar e quem coleta, o site descarteaqui.cff.org.br. A missão foi assumida como foco da campanha anual do conselho federal e conselhos regionais em alusão ao Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos, 5 de maio (veja tabela abaixo).
Desde março do ano passado, quando o coronavírus chegou ao Brasil, o conselho vem monitorando as vendas de medicamentos vinculados à doença e alertando sobre os prejuízos à saúde do consumo desenfreado e, muitas vezes, sem a devida orientação. Agora, a preocupação é evitar danos adicionais, com o descarte incorreto das sobras e medicamentos vencidos. A proposta é, também, estimular o cumprimento do Decreto no 10.388, de 5 de junho de 2020. Conforme o dispositivo legal, a partir de setembro, será obrigatório que as farmácias e drogarias de capitais e de municípios com mais de 500 mil habitantes mantenham, no mínimo, um ponto fixo de recebimento para cada dez mil habitantes. Após um ano, a providência será exigida para municípios com mais de 100 mil habitantes.
Para viabilizar sua iniciativa, o conselho está empenhado em cadastrar todos os pontos de coleta existentes no país. O cadastramento é voluntário e, por enquanto estará restrito às farmácias registradas nos conselhos regionais de Farmácia (CRFs), podendo ser efetuado exclusivamente pelo farmacêutico responsável técnico de cada estabelecimento. Depois será estendido a outros estabelecimentos, além das farmácias. O cadastramento será permanente. E a partir do dia 5 de maio, o site exibirá aos usuários de medicamento, de forma georreferenciada, as farmácias cadastradas. Isso significa que, selecionando o estado, a cidade e o bairro desejados, o usuário poderá localizar a farmácia com ponto de coleta mais próxima, para o descarte adequado.
Além de orientar e direcionar o usuário para o descarte adequado, a campanha promovida pelo CFF também pretende conscientizar sobre os riscos do descarte de medicamentos no lixo comum, na pia ou no vaso sanitário. Pesquisa realizada pelo CFF, com o instituto Datafolha realizada em 2019, apurou que 76% dos entrevistados indicaram maneiras incorretas para o descarte de medicamentos que sobraram ou venceram (lixo comum, pias, vasos sanitários e tanque).
Esses hábitos contribuem para potencializar graves problemas de saúde pública, como a resistência bacteriana. Descartadas de forma inadequada, as substâncias se misturam ao lixo comum, e voltam para a natureza ainda ativas, podendo contaminar o lençol freático e até mesmo a água que consumimos. Outro princípio difundido será o do uso racional, que evita o acúmulo e reduz a necessidade de descarte desses resíduos. Existe uma série de medidas que podem ser adotadas no intuito de evitar sobras de medicamentos, como consultar o farmacêutico visando à compra da quantidade exata ou o mais próximo possível da necessária à conclusão do tratamento prescrito.
Todos esses dados mostram a necessidade de campanhas de uso racional e seguro de fármacos, e também de mostrar à população o que fazer com seus medicamentos domiciliares que sobram ou vencem. O Brasil é um dos dez principais mercados de medicamentos no mundo, com um inventário ambiental de lançamento anual de resíduos de medicamentos que oscila entre 10.000 e 20.000 toneladas, em um processo crescente e ininterrupto de geração de passivo ambiental, ano a ano. "Promover o descarte correto e estimular todos os integrantes da cadeia do medicamento a assumirem o seu papel na logística reversa é uma forma de exercer a nossa responsabilidade ambiental e zelar pela saúde pública", avalia o presidente do CFF, Walter da Silva Jorge João.
Quais são as principais reações adversas de cada item do kit covid
Hidroxicloroquina – pode levar à ocorrência de dores abdominais, diarreia, náusea e vômitos, lesão hepática aguda, miopatia, vertigem, reações extrapiramidais, convulsões (principalmente em pacientes com histórico prévio), taquicardia, prolongamento do intervalo QT, entre vários outros efeitos adversos, sendo os cardiovasculares aqueles que mais suscitam preocupações.
Ivermectina – pode causar diarreia, dor abdominal, anorexia, constipação e vômitos; febre; taquicardia; dor de cabeça, tontura, sonolência, vertigem e tremor; inchaço nos membros (braços, mãos, pernas e pés); hipotensão; além de prurido, coceira e erupções cutâneas.
Nitazoxanida – pode causar náusea, diarreia, vômito e dor abdominal; dor de cabeça; reação alérgica; taquicardia; mudanças na coloração dos olhos, urina e esperma; e, ainda, vermelhidão, coceira e erupções na pele.
Vitamina D – pode causar secura da boca, cefaleia, perda de apetite, náuseas, fadiga, sensação de fraqueza, dor muscular, prurido e perda de peso. O consumo excessivo também pode causar constipação, fraqueza muscular, vômitos, irritabilidade e desidratação. Além disso, o excesso de vitamina D, por períodos prolongados, pode resultar em alterações endócrinas e metabólicas, como proteinúria, disfunção renal, hipertensão, arritmias, piora dos sintomas gastrintestinais, pancreatite, psicose, redução dos níveis de HDL e aumento dos de LDL.
Vitamina C – a administração de altas doses, por tempo prolongado, pode causar escorbuto de rebote, distúrbios digestivos, eritema, cefaleia, aumento da diurese e litíase em pacientes com insuficiência renal e naqueles predispostos a cálculos renais.
Além disso, é importante lembrar que todos esses medicamentos apresentam contraindicações e podem alterar os efeitos de outros medicamentos já em uso pelo paciente.