A presença de facções criminosas na Amazônia Legal alcançou um patamar inédito. De acordo com pesquisa divulgada nesta quarta-feira (19) pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), grupos nacionais e internacionais já atuam em 344 dos 772 municípios da região, o equivalente a 45% das cidades. Em 2024, eram 260, um salto de 32% em apenas um ano. O crescimento está diretamente relacionado ao controle de rotas do tráfico de drogas e à exploração de economias ilegais locais, como o garimpo. Áreas como o Alto Solimões se tornaram corredores estratégicos para a circulação de entorpecentes rumo ao exterior. Este é o quarto ano do estudo Cartografias da Violência na Amazônia, produzido em parceria com organizações como Instituto Clima e Sociedade, Instituto Itausa, Instituto Mãe Crioula e o Laboratório Laiv. O levantamento identificou 17 facções atuando no território, incluindo grupos tradicionais como Comando Vermelho (CV) e Primeiro Comando da Capital (PCC), além de organizações locais e estrangeiras, como o venezuelano Tren de Aragua e dissidências das Farc, na Colômbia. O Comando Vermelho é, de longe, a facção mais presente: Já o PCC aparece em 90 municípios, com controle direto em 31 e disputa em 59. Em 2023, estava presente em 93 cidades, uma leve oscilação, mas com atuação mais concentrada em parcerias e rotas de grande escala. Segundo David Marques, gerente de projetos do FBSP, a explicação está no próprio modelo de funcionamento das facções. A lógica do Comando Vermelho é como se tivéssemos a criação de franquias associadas ao grupo, afirma. O CV, ao contrário do PCC, combina atuação no varejo e no atacado do tráfico. Para isso, precisa de controle territorial especialmente em áreas de fronteira onde o escoamento de drogas é vital. O PCC, relata Marques, opera com decisões mais centralizadas em São Paulo e prioriza acordos com grupos locais, focando no atacado do tráfico pela chamada “rota caipira”, que passa por Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná até chegar a portos de exportação. A proximidade com outros países é determinante. Estados que fazem divisa com Peru, Bolívia, Venezuela ou Colômbia apresentam os índices mais elevados. Presença de facções por estado da Amazônia Legal: O Acre é o caso mais extremo: todas as cidades apresentam registros de facções. O estudo também revela que, apesar da queda recente, a violência na Amazônia Legal permanece muito superior à média do país: Outro dado preocupante é que facções passaram a impor regras comportamentais para mulheres, chegando a determinar que relacionamentos só podem ser encerrados com autorização dos criminosos. Mesmo diante da expansão do crime organizado, houve aumento de 21% nas apreensões de drogas em 2024. O dado indica maior fiscalização, mas também volume crescente de entorpecentes circulando pela Amazônia. O avanço das facções revela uma disputa cada vez mais intensa por rotas internacionais e territórios estratégicos e reforça o desafio do Estado brasileiro em conter a escalada do crime organizado na região mais sensível do país. A Amazônia Legal, com extensão continental e fronteiras porosas, continua sendo o epicentro de uma batalha que combina geopolítica, economia ilegal e profundas fragilidades estruturais.Quem domina a região: 17 facções mapeadas
Por que o CV avança mais?
Presença varia conforme a fronteira
Violência ainda acima da média nacional
Apreensão de drogas e cenário futuro
Facções já estão em quase metade das cidades da Amazônia Legal, aponta estudo
Levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública revela avanço recorde do crime organizado na região; Comando Vermelho domina 83% dos municípios com presença de facções.
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