Bruno dos Santos é prova de como é possível a recuperação de jovens infratores. Ele foi apreendido aos 16 anos, concluiu sua pós-graduação na USP (Universidade de São Paulo) aos 25, e hoje é um empreendedor que já contou sua experiência em palestras como o TEDx.
Filho mais novo de cinco irmãos, Bruno cresceu com a avó em Capão Redondo, na capital paulista, onde mora até hoje. Todas as casas da rua depositavam o lixo na mesma esquina para que o caminhão fosse buscar. Além de gostar de brincar com aquilo que não servia mais para os outros, ele conta que sempre se divertia observando o trabalho dos catadores.
Bruno veio de uma família humilde e cresceu no meio do tráfico. O crime fez com que seus parentes próximos fossem presos e, com ele, não foi diferente. "Aos 16 anos eu já estava na Febem, por pequenos furtos, aprontando para caramba", conta
Em uma conversa decisiva com o pai, o jovem decidiu mudar de atitude e investir em um novo futuro. "Eu tinha um sonho muito grande dentro de mim, mas não sabia traduzir o que era. Eu queria mudar minha vida, não aceitava aquela condição”.
Quando deixou a extinta Febem (atual Fundação Casa), Bruno fez supletivo e conseguiu emprego no posto que almejava desde de criança: coletor no caminhão de lixo. “É um trabalho difícil, insalubre. Independentemente das condições de clima, você tem que estar na rua para poder limpar. Exige muita resistência física e psicológica”, conta.
Enquanto isso, a família de Bruno participava de um projeto do Instituto Rukha, que atua em comunidades com palestras e programas culturais para tirar famílias da miséria.
Este mesmo instituto viu que Bruno tinha perfil para ser um líder comunitário, e deu a ele a oportunidade de cursar uma graduação , paga por empresários. Conversando com especialistas da área e sempre com olhos na sua paixão, a de cuidar de resíduos, ele optou pelo curso de Gestão Ambiental.
A contrapartida da oferta era fazer um trabalho em prol da comunidade. Bruno então reuniu os jovens de onde morava e, de um jeito bem informal, dar aulas sobre o que aprendia na faculdade. “Era tudo muito precário. Assistíamos a documentários, eu comprava coisas da xepa para preparar o lanche para eles, mas eles adoravam e queriam sempre que eu falasse mais.”
Bruno teve então a ideia de criar um projeto chamado Sustenta CaPão, em parceria com seu irmão. É um bistrô que vai até comunidades, onde fabricam pães artesanais. O objetivo é reunir os moradores para integrá-los e discutir questões relacionadas a comunidade onde vivem.
Ele ainda queria se especializar. “Participei de um Laboratório de inovação social onde uma empreendedora que trabalha com projetos de sustentabilidade topou investir e pagar o meu curso de pós-graduação”, conta ele. Desta vez, o curso escolhido foi Resíduos Sólidos, que ele terminou este ano, na Universidade de São Paulo (USP).