O Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM) publicou o relatório de monitoramento de áreas de risco realizado no Cânion do Poti, no Piauí. O relatório apontou diversos pontos de formação de reentrâncias e saliências rochosas e ressaltou o risco dos blocos soltos no topo das vertentes, contudo, informou que não há risco iminente que provoque acidente como o ocorrido no lago da Represa de Furnas, na região do município de Capitólio (MG), no mês de janeiro.
A semelhança entre a região mineira e os Cânions do rio Poti levou os responsáveis pela atração turística à conclusão de que uma vistoria preventiva deveria ser realizada. Após a solicitação feita pela Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMAR) do Piauí, a avaliação foi realizada por pesquisadores em geociências do SGB-CPRM no período de 14 a 25 de fevereiro deste ano, com o objetivo de identificar os locais com maior risco e perigo.
Segundo o Relatório do Serviço Geológico do Brasil, dos tipos principais de movimentos de massa mais frequentemente instalados em campo e identificados durante o levantamento geológico-geotécnico, e passíveis de recorrência, citam-se deslizamento, rolamento e tombamento de blocos, queda de blocos e erosão pluvial e fluvial.
"Com base no estudo preliminar das estruturas geológicas locais, sinais de movimentação de massa e o volume de chuva na região não foram identificados indícios muito fortes para risco iminente de desabamentos que possam atingir dimensões consideráveis, exceto em situações de conjugação extrema dos fatores potencializadores de desastres apresentados e discutidos nesse trabalho. No entanto, deve-se ressaltar que risco baixo não significa impossibilidade de movimentos de massa na região", informa o órgão, ao ressaltar sobre os possíveis riscos.
"Nunca haverá risco zero nas atividades turísticas a serem realizadas em áreas de cânions, mesmo após a implantação das contenções e do plano de monitoramento com instrumentações, já que o ambiente geológico natural tem processos de movimentos gravitacionais de massa complexos, intensos, dinâmicos e com evolução quase que diária".
Turismo ameaçado?
Segundo o relatório, a instabilidade e suscetibilidade dos paredões em áreas de relevo íngreme não representam, por si só, um problema para o turismo na região. "O problema ou demanda por cuidado passa a existir em função do uso e forma de ocupação dessas áreas. A ocorrência de acidentes não tem como tomada de decisão imediata o isolamento ou impedimento de acesso mas, decisiva e prioritariamente, de ordenar as formas seguras de seu uso. A necessidade de acompanhamento e avaliação contínua de risco geológico de formações rochosas de forte atrativo paisagístico deve constituir-se numa prática em áreas que se tornam destinos turísticos", informa o documento.
Os pesquisadores informaram que a identificação de risco eventual "não impossibilita a atividade turística nesses locais mas exige prática segura quanto aos locais ou trechos com boa e segura trafegabilidade. A recomendação é que a estruturação e definição de qualquer rota nesses locais passem, ou deveriam passar, por um mapeamento prévio de risco geológico", considera o estudo.
Prática de atividades esportivas
Outro alerta apresentado no documento se refere à prática de rapel. "Necessário se faz chamar a atenção para o risco oferecido pelos blocos soltos no topo das vertentes quando nesses locais são desenvolvidas atividades esportivas, como a prática de rapel fortemente disseminada na região pesquisada".
E complementa: "Os locais e números de blocos em situação de instabilidade estão presentes de forma significativa. Este tipo de movimento de massa é de difícil previsão e incertezas quanto à(s) trajetória(s), para além da dificuldade quanto ao alcance por apresentarem movimentos rápidos e que podem ser potencializados ou induzidos por eventos climáticos e biológicos atuando de modo muito localizado", informa o documento.
Recomendações para evitar acidentes
Para evitar acidentes e minimizar riscos de tragédias como a ocorrida em Capitólio, o órgão sugere, entre outras ações:
- estudos geotécnicos e hidrológicos com a finalidade de embasar os projetos e/ou obras de contenção de encostas ou de blocos rochosos;
- fiscalização e proibição da construção ou visitação em áreas protegidas pela legislação vigente;
- instalação de um sistema de alerta para as áreas suscetíveis;
- exigência da apresentação de laudos técnicos ou estudos correlatos aos novos empreeendimentos turísticos;
- adequação de projetos de engenharia às condições geológicas e topográficas locais, evitando realizar escavações e aterros de grande porte.