A cada uma sala com 30 pessoas, pelo menos 5 já pensaram em se matar. O suicídio afeta diretamente 10 pessoas. Essa e outras afirmações fazem parte de uma gama de informações referentes ao suicídio. O Brasil está entre os dez países onde mais as pessoas se matam - está atualmente em 8º, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
O que tem preocupado muito é o aumento do suicídio entre jovens. Para se ter uma ideia, em 1980, a taxa de suicídios na faixa etária de 15 a 29 anos, era de 4,4 por 100 mil habitantes. Em 1990, baixou para 4,1, aumentando para 4,5 em 2000 e apresentando crescimento até 2014. Ou seja, entre 1980 e 2014, houve um crescimento de quase 30% no número de suicídios nessa faixa etária.
Recentemente, muito se falou sobre aquela tal jogo "baleia azul". Ele ganhou publicidade, mas não é exatamente novidade e não é o único. São multifatoriais as causas que levam adolescentes e jovens em início de vida a se matarem.
Há casos de agravamento de quadros depressivos por causa de um histórico de bullying, por exemplo. E há, na minha visão uma das coisas mais urgentes de serem mudadas nesse quadro, uma dificuldade de lidar com frustrações. Esses adolescentes/jovens foram crianças desacostumadas a limites e a lidar com frustração mesmo, com o fracasso.
Ao mesmo tempo, a sociedade sobra cada vez mais o sucesso, a fama, o dinheiro, o reconhecimento dessa garotada. Eles estão preparados? Os números mostram que, talvez, não. Que talvez esteja mesmo pesado viver nesses tempos. As relações muito frouxas, pouco consolidadas e sem qualquer comprometimento também ajudam nessa gama de uma vida que, em pouco tempo, pode parecer vazia.
Setembro Amarelo é o mês onde organizações, especialistas, entidades e as pessoas mesmo que individualmente são convidadas a parar e pensar sobre esse tema. Porque precisamos falar sobre o suicídio. Nessa perspectiva, o CVV (Centro de Valorização da Vida) faz um trabalho há mais de 50 anos que tem como premissa isso: o diálogo, a conversa. Com atendimento pelo telefone 141 e outros canais on-line, o trabalho é voluntário. Só não é gratuito porque paga-se o valor de uma ligação local. Mas, recentemente, o governo concedeu o telefone 188 - que esse, sim, será gratuito - para a rede de todo o Brasil.
A mudança está acontecendo gradativamente, estado estado. Enfim, o CVV trabalha com prevenção ao suicídio, prestando apoio emocional a quem precisa. Basicamente, os voluntários estão disponíveis para fazer algo que tem sido tão raro em dias como esses: ouvir. O exercício da escuta ativa ampara, acolhe. Sem pretensão de "salvar" ninguém, serviços como esse, do CVV, estão aqui para preencher a lacuna de uma sociedade cada vez mais individualista e egoísta: se colocar no lugar do outro, compreender, ouvir. Às vezes, é a única coisa necessária.