Na manifestação de quinta-feira (20) na Avenida Presidente Vargas, no Centro do Rio, a polícia precisou conter a ação de vândalos que cercaram a prefeitura e promoveram um quebra-quebra pelas ruas. À medida que o tempo passou, surgiram na internet muitas acusações de abusos que teriam sido cometidos por PMs contra pessoas que estavam longe dos tumultos e que não tinham envolvimento.
Na sexta-feira (21), estudantes do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro leram uma manifesto contra o que consideram ações violentas da polícia.
?Foram vistas cenas de extrema covardia com manifestantes. Policiais da PM, Choque e Bope com seus escudos e blindados atiraram e jogaram bombas em pessoas sentadas em bares e que voltavam para casa?, leu a estudante Gabriela Machado.
Na noite de quinta-feira, Victor Vidigal e outros estudantes buscaram abrigo na universidade. ?Eles partiram pra cima da população em geral, indiscriminadamente tacando bombas pra todos os lados. Eu não tinha tacado pedra nenhuma e estava tomando bomba de gás e tiro de borracha do mesmo jeito?, relembrou o estudante Victor Vidigal.
O Ministério Público do Rio abriu inquérito para apurar denúncias de excessos cometidos pela polícia durante as manifestações na cidade. Os promotores querem ouvir relatos de quem estava na Avenida Presidente Vargas e, principalmente, nas imediações do Centro, como na Lapa e que acusa a tropa de choque de ter sido violenta.
?Quebraram o vidro e tacaram uma bomba dentro do bar mesmo, estourou perto da gente.Tinha criança, tinha um bebê de colo, a mãe desesperada chorando, correndo com a criança no colo. Um clima absurdo. Estava todo mundo ali em paz?, informou Melina D´Ávila, gerente comercial.
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A estudante Maíra Terra Maluf contou que os policiais atiravam para todos os lados. ?Não faziam nenhuma distinção, eles estavam atirando em todo mundo. Era quase um toque de recolher, mandando todo mundo embora?, contou a aluna. Raphaela Prado afirmou que os policiais expandiram o caos pelo Centro da cidade. ?Eles não foram capazes de saber onde estavam acontecendo os eventos agressivos isolados e atuar sobre eles?.
Muitas pessoas publicaram imagens na internet. No bairro da Lapa, um vídeo mostra um policial correndo para cima de pessoas que estavam em um bar e atirando spray de pimenta contra todas. Outras cenas mostram que clientes tiveram que correr para dentro de um bar, mas as portas de ferro não impediram a entrada do gás lacrimogêneo. Bombas também foram lançadas contra pessoas que esperavam a reabertura de uma estação do metrô.
?A gente estava esperando para entrar no metrô, o metrô estava fechado, não teve motivo nenhum. Foi pura covardia?, contou o jovem.
Um professor foi ferido quando estava indo embora da manifestação. ?Estava no ponto de ônibus, na Lapa. Quando eu vi a bomba vindo, eu abaixei. Quando eu abaixei, pegou na minha orelha. Eu tomei 15 pontos?, disse o professor de história Paulo Carvalho.
Policiais também dispararam balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo na direção do Hospital Municipal Souza Aguiar.
O repórter da GloboNews Pedro Vedova levou um tiro de borracha na testa enquanto trabalhava na cobertura dos protestos, perto da sede da prefeitura. Mas em um momento em que não havia nenhum conflito na área. O jornalista se recupera em casa.
Tatiana Frambach ainda se emociona quando lembra o que viveu enquanto tentava se proteger. ?Eles não estavam dispersando, eles estavam encurralando a gente, eles estavam querendo machucar. Aquilo era pra machucar, já tinha gente passando mal de tanto gás que tava, de tanto spray de pimenta. Eu fiquei com medo de morrer. Eu nunca pensei que fosse sentir isso?, contou a jovem.
A Polícia Militar do Rio informou que está reunindo todo o material que tem sido apresentado oficialmente ao comando da corporação e que vai fazer um estudo de cada caso para avaliar se cabe punição.