O mercado da Piçarra é o mais tradicional de Teresina, assim como é conhecido e valorizado por quase todos os que moram nesta cidade. Isso porque falta o reconhecimento por parte de quem pode garantir uma estrutura adequada e compatível com a importância que aquele local tem para a cidade.
Logo na entrada principal é possível verificar o descaso do poder público, que à revelia dos permissionários não se preocupa em acondicionar o lixo composto por vísceras e carnes diversas. Urubus, moscas e baratas agradecem, pois encontram um ambiente ideal, caracterizado pelo mau cheiro.
Segundo Antônia Rodrigues, que trabalha com alimentos desde que o mercado foi inaugurado naquele local, a coleta de lixo nem sempre passa. ?Às vezes são mais de 24 horas para o caminhão levar, quando deveria ter coleta duas vezes por dia?, defende a permissionária.
Além do próprio lixo, um frigorífico, os moradores e um supermercado próximo aproveitam para jogar seus detritos em frente ao mercado da Piçarra. ?Eu acho que esse lixo deveria ficar do outro lado, onde não é comercializado alimento. Mas o pessoal de lá também não aceita. Mas é preciso encontrar um local adequado?, afirma Antônia Rodrigues.
A permissionária sugere também que no mercado da Piçarra seja feita a coleta seletiva do lixo. ?Vivemos em uma época em que o reaproveitamento do lixo é essencial. Por isso deveríamos fazer isso aqui?, disse Antônia Rodrigues. A medida poderia ajudar, inclusive, a reduzir os problemas com o lixo orgânico. Os permissionários temem, inclusive, uma visita da vigilância sanitária, pois têm consciência de que não trabalham de acordo com as normas de manejo de alimentos.
No período do calor é que os permissionários do Mercado da Piçarra mais sofrem. O teto não foi feito para amenizar as altas temperaturas tão comuns em Teresina, o que acaba afastando clientes.
REFORMA PODERIA ATRAIR MAIS CLIENTES
Depois que o cliente passa pelo mau cheiro do lixo em frente ao mercado da Piçarra, ainda é preciso enfrentar o calor, aumentado por causa do material com que é feito o teto, inadequado às altas temperaturas de Teresina. Os ventiladores, em quantidade até razoável, não são o bastante para tornar o espaço climatizado.
A iniciativa então fica a cargo de cada permissionário, que investe muito para garantir conforto e não perder o cliente. Mas nem todos lucram o bastante para isso e acabam perdendo para a concorrência, como é o caso de Luzenir Gomes. ?Se fosse feita uma reforma aqui a gente ia ter mais clientes?, afirma ela.
Segundo Luzenir, os banheiros é que estão em piores condições. ?Quando o cliente precisa usar dá vontade de dizer que não tem. É capaz de ele ir e não querer mais comer?, lamenta Luzenir Gomes, acrescentando que o piso também está ruim, assim como os boxes, que precisam ser revitalizados.
Enquanto isso não acontece, os permissionários vão dando o seu jeito, consertando algumas coisas e deixando outras para depois. Segundo alguns, mesmo desassistidos pelo poder público, a renda é melhor do que o salário de muitos empregos formais.
PANELADA E MÃO DE VADA DURANTE A MADRUGADA
Quem costuma ficar até a madrugada na noite teresinense já sabe onde pode encontrar a comida ideal para levantar o ânimo. O mercado da Piçarra está aberto a partir das 4 horas da madrugada, oferecendo o melhor da panelada, da galinha caipira, da rabada e da mão de vaca.
A comida é pesada, mas faz sucesso há muito tempo. Poucas pessoas nunca cederam ao prazer de começar o dia no mercado da Piçarra. Segundo Ana Cléia dos Santos, as madrugadas dos finais de semana parecem com o horário de almoço. ?E se tiver show no meio da semana, é do mesmo jeito?, conta Ana.
Por causa disso, o dia de trabalho para essa mulher começa muito cedo, dura mais de 12 horas e vai de segunda a segunda. ?Depois das 15h eu começo a fazer a limpeza e a preparar algumas coisas para o dia seguinte?, declara Ana Cléia, que está há mais de 10 anos nesse mesmo ramo.(N.F.)