O drama da jovem de 24 anos, moradora de Guarujá, no litoral de São Paulo, que está há cerca de um ano com um cisto no ovário mobilizou os internautas e trouxe à tona uma dúvida: como se forma e por que cresce tanto, a ponto da paciente ser confundida com uma mulher grávida?Conversamos com um especialista sobre o assunto.
Segundo o médico ginecologista Natal Marques da Silva, é relativamente comum a formação de cistos no ovário. "Todo mês, o ovário das mulheres em idade reprodutiva dá origem a um folículo. É dentro dessa estrutura que o óvulo surge e amadurece. Quando o folículo chega a cerca de 2 centímetros, ele arrebenta e expele o óvulo, que será posteriormente fecundado ou não. O cisto se forma quando o folículo não estoura e começa a crescer sem parar", explica.
Natal acredita que Gislaine Barbosa da Silva, que só depois de ter seu caso divulgado na web conseguiu marcar uma cirurgia, tem todas as características de uma paciente com o chamado cisto folicular. "Pela idade dela e pelo tempo que está esperando para operar, é o mais provável. Além disso, quando a mulher é mais nova, a probabilidade do cisto ser benigno é muito maior. No caso de mulheres mais velhas, que já chegaram na menopausa, há maiores chances do cisto ser maligno. No entanto, nos dois casos, só é possível ter certeza depois que a anomalia é retirada e analisada em laboratório", diz.
De acordo com o médico, existem cistos com outras origens, que também podem crescer muito. "Além dos foliculares, há cistos de origem hormonal, glandular, degenerativa e até alguns cuja causa ainda não foi desvendada pela medicina. Mas, em todos os casos, sendo benigno ou maligno, o cisto pode atingir grandes volumes, a ponto da paciente ser confundida com uma mulher grávida. Pode acumular litros de um líquido amarelado, que não tem nada a ver com o líquido amniótico, produzido na gravidez", relata.
As dores que Gislaine sente na barriga, segundo Natal, também são esperadas. "Assim como na gestação, quando um cisto chega a esse ponto, passa a comprimir os outros órgãos. Não há como evitar a dor, em nenhum dos dois casos", conclui o médico.
O caso
Gislaine Barbosa da Silva, de 24 anos, está há cerca de um ano com um cisto no ovário esquerdo e, até esta semana, não havia conseguido atendimento satisfatório na rede pública de saúde para solucionar o problema. A paciente alega que foi tratada com descaso por vários médicos que a atenderam durante esse tempo.
A jovem é balconista e tem uma filha de dois anos. Ela conta que passou a desconfiar que havia algum problema em fevereiro de 2012, quando notou que a barriga começou a crescer, e não parou mais. Além das dores físicas, principalmente no abdômen e nas pernas, Gislaine também sofre com as brincadeiras e o fato de sempre a confundirem com uma mulher grávida.
Ela só fez a primeira consulta em novembro de 2012, em Guarujá. Em seguida, foi encaminhada para o Hospital Guilherme Álvaro, em Santos, onde, segundo ela, passou por vários médicos que a trataram com desdém, sem conseguir resolver seu problema.
A situação só começou a melhorar quando sua prima, a auxiliar administrativa Flávia Cesar Amaral, postou uma foto dela em uma rede social na internet, juntamente com um texto explicativo. Várias pessoas se dispuseram a ajudar, inclusive médicos, até que, esta semana, conseguiu marcar a cirurgia para a retirada do cisto, agendada para 17 de maio.
Outro lado
Por meio de nota divulgada pela sua assessoria de imprensa, o Hospital Guilherme Álvaro esclarece que não procede a informação de que a paciente não recebeu atendimento adequado na unidade. O hospital afirma que ela foi atendida e avaliada em todas as ocasiões em que compareceu ao local, foi encaminhada para outras especialidades, de acordo com os resultados das avaliações. Ainda segundo a nota, a paciente foi atendida na última segunda-feira (29) por um ginecologista, quando foi pedido um exame de ultrassom, que está agendado para a próxima semana, na própria unidade. O hospital informa, ainda, que todos os profissionais são orientados a tratar os pacientes com respeito e cordialidade. Tal orientação será reforçada. A unidade se coloca à disposição da paciente para quaisquer esclarecimentos