Os jumentos, animal muito presente no nordeste do Brasil, corre o risco de deixar de existir. A espécie está sendo ameaçada devido a uma demanda bilionária na China pela pele desses animais. Acontece que a China utiliza de pele de jumento para a produção do ejiao, um elixir que promete vitalidade, entre outros benefícios para saúde, segundo os preceitos milenares da Medicina Tradicional Chinesa (MTC).
Com a alta demanda, o número de jumentos seguem em ameaça e diminuição. Pesquisadores brasileiros buscam uma solução para esse problema; dentre os trabalhos de pesquisa em destaque está o da Universidade Federal do Paraná (UFPR) que promete gerar até o final de 2026 os primeiros resultados para produzir colágeno de jumento feito em laboratório a partir da fermentação de precisão.
A pesquisa trabalha com uma técnica avançada de biotecnologia para o cultivo de células e produção de tecidos, também conhecida como agricultura celular. O trabalho foi apresentado pela primeira vez no 13º Congresso Mundial de Alternativas e Uso de Animais nas Ciências da Vida (WC13), realizado no Rio de Janeiro no começo de setembro.
ESPÉCIE EM EXTINÇÃO
O risco da extinção desses animais não acontece apenas no Nordeste brasileiro. Isso porque, anteriormente, a demanda pelo colágeno presente na pele dos jumentos também atingiu o continente africano.
A situação foi tão alarmante por lá que em 2024 o comércio de pele de jumento foi proibido com uma moratória de 15 anos para o abate, em uma decisão unânime de 55 chefes de Estado reunidos na Cúpula da União Africana.
No Brasil, a situação não é diferente. De acordo com cientistas, houve uma redução de 94% da população de jumentos nas últimas décadas. Ainda em 1990, os jumentos começaram a ser substituídos por motos, iniciando um processo de desaparecimento da espécie que piorou muito na última década por conta da demanda pelo ejiao.
QUAIS OS RISCOS DA EXTINÇÃO?
O desaparecimento dessa espécie, principalmente no Nordeste brasileiro, acarreta danos ambientais, sociais, culturais e econômicos significativos. Podendo afetar aspectos ambientais, sociais, culturais e econômicos significativos, assim como, a perda de um símbolo importante do semiárido nordestino, presente na memória e na produção artística local.
"Estamos prestes a ficar sem jumentos no Brasil, e não é um comércio que se defenda, nem do ponto de vista puramente pragmático do comércio. É um beco sem saída, então, seria muito importante que isso fosse parado antes que acabemos com os jumentos, porque só vai parar na hora que acabarmos com eles. Então, não faz sentido. ", diz Carla Molento, doutora em zootecnia e coordenadora do Laboratório de Bem-Estar Animal (Labea) e do Laboratório de Zootecnia Celular da UFPR.