O engenheiro W.J.S, que segundo o Ministério Público (MP) teve o pênis cortado a mando da ex-noiva, dizia-se ameaçado pela mulher mesmo depois da mutilação sofrida. Pelo crime, a médica Myriam Priscilla de Rezende Castro, 34, foi presa nesta semana no interior de São Paulo por ter sido condenada pela Justiça a seis anos de prisão em regime semiaberto.
A lesão corporal ocorreu no dia 18 de março de 2002, na cidade de Juiz de Fora (278 km de Belo Horizonte). A motivação para o crime teria sido o rompimento do noivado, feito pelo engenheiro, a apenas três dias do casamento. O pai da mulher, que teria ajudado a filha no crime, também foi condenado e cumpre prisão em regime domiciliar.
Em um depoimento dado à polícia no dia 10 de junho daquele ano a vítima pede "providências" contra a ex-noiva.
"[W.J.S] quer providências contra a pessoa de Myriam, pois mesmo depois da lesão sofrida [corte do pênis], continua amedrontado do que possa ocorrer, pois continua recebendo ameaças e que por segurança pessoal não está fornecendo o endereço de onde está morando atualmente", relatou em depoimento prestado à Polícia Civil.
Segundo ele, a ex teria dito que arranjaria uma forma "que o declarante não tivesse oportunidade de ter [mais] nenhuma mulher na vida".
Antes de sofrer o ataque, ainda no dia 4 de março, ele e o pai fizeram um boletim de ocorrência dizendo que ele e o pai vinham sofrendo ameaças de morte, que eram estendidas aos demais familiares.
Relacionamento
S. conta que conheceu a mulher em 1998 e teve um relacionamento de aproximadamente 3 anos com a então estudante Myriam.
Ainda conforme relato da vítima em outro depoimento, o rompimento se deu em razão de ele ter considerado que a noiva dizia mentiras, falava mal de familiares dele e ainda praticaria chantagens. O homem classificou a então noiva de "possessiva".
Ele declarou que as ameaças começaram logo após o rompimento do noivado e ainda culpou a mulher por incêndio causado em um carro do pai.
O homem também relatou que os pais e irmãos também eram pressionados a interceder para que ele reatasse o relacionamento.
Declaração de amor
Já em uma segunda etapa, ainda de acordo com W., a mulher teria mudado de estratégia e passado a tentar reatar o romance, mesmo depois da mutilação, com declarações de amor.
Em um dos e-mails creditados à médica, ela afirma que não havia sido a responsável pelo crime e aponta um homem, denominado apenas como Claudinho, como tendo sido o mandante do crime. A versão havia sido apresentada após uma investigação que ela teria feito por intermédio de detetives particulares.
"Eu quero falar que eu ainda te amo, mais do que isso, talvez eu te ame mais hoje do que antes. Eu estava com raiva de você, só pensava em contar as coisas pro meu pai. Agora, sinto vontade de te abraçar, de cuidar de você, de ter com você o cuidado que nunca tive antes. Eu amo você", trouxe cópia de e-mail anexado ao processo.
No entanto, em depoimento dado à polícia, no primeiro semestre de 2002, Myriam havia negado as acusações ao afirmar não ter tido participação no episódio, sendo que os e-mails repassados à vítima e a familiares não tinham sido mandados por ela. Ela também rechaçou ter feito ameaças por telefone.
A mulher rebateu as declarações do ex-noivo dizendo que ele era quem seria possessivo. Myriam, segundo a polícia, termina o seu relato dizendo que não pretendia reatar o relacionamento com W. "mesmo porque a declarante é jovem e pretende se casar e ter filhos" --o ex-noivo já estava mutilado.
Na acusação feita à época pelo Ministério Público (MP), consta que o ataque sofrido pela vítima "resultou em perda da função reprodutora, deformidade permanente e perigo de vida".
Caso
Segundo o Ministério Público, no dia do crime, a vítima foi dominada por dois homens dentro do apartamento que ocupava na cidade de Juiz de Fora (278 km de Belo Horizonte). Conforme a denúncia, os autores da agressão se passaram por técnicos de uma empresa de telefonia. O irmão da vítima também foi agredido.
O MP disse que os dois foram dominados, amarrados e ainda teriam sido obrigados a cheirar éter. Parte do pênis da vítima foi cortada e levada como prova da execução do serviço. Um dos executores está preso. A defesa da mulher e do pai dela negam que eles tenham tido participação no episódio.