Profissionais de enfermagem do Hospital Estadual Dirceu Arcoverde (Heda) em Parnaíba, paralisam atividades por 72 horas por melhores salários e condições de trabalho.
A paralisação iniciou na manhã de ontem (19) com todos os 65 profissionais entre técnicos, auxiliares e enfermeiros, além do apoio de bioquímicos e fisioterapeutas da instituição.
De acordo com o presidente do Sindicato dos Enfermeiros, Auxiliares e Técnicos em Enfermagem do Estado do Piauí (Senatepi), Erick Riccely, o Dirceu Arcoverde é o hospital que possui mais médicos (20 profissionais) e a menor resolutividade do estado.
A má distribuição dos recursos para folha de pagamento é uma das importantes pautas da paralisação, que deve evoluir para greve caso não haja negociação com a Secretaria Estadual da Saúde e a direção geral da instituição.
"Os enfermeiros de nível superior recebem cerca de R$ 900 e os técnicos R$ 740. Enquanto o recurso que deveria ser distribuído para pagar salários e gratificações de toda a equipe do hospital é quase todo direcionado para pagar os plantonistas médicos, o valor pago por plantão do médico é de R$ 1500 e a gratificação com valor não justificado de R$ 3 mil.
Os profissionais de enfermagem não estão inclusos na Gratificação de Incentivo à Melhoria da Assistência à Saúde pois todo o dinheiro é direcionado apenas aos médicos".
Existe ainda um desnível em relação ao número de enfermeiros de acordo com a resolução do Conselho Federal de Enfermagem de número 293/2004 sobre o dimensionamento do quadro de profissionais da área, que exige a presença de um (1) enfermeiro e dois técnicos para cada paciente internado em UTI ou de acordo com a gravidade.
Contudo, o Hospital inteiro conta apenas 12 enfermeiros e 53 técnicos, número insuficiente para atender a demanda do Heda, que está localizado em uma região com população de 265 mil pessoas.
"Hoje há uma deficiência de 124 profissionais, pois só existem uma enfermeira e dois técnicos para o pronto-socorro, que inaugurou mais sete leitos", disse Erick Riccely.
Outra reclamação da categoria é a contratação excessiva de terceirizados. Existe uma lista de 20 profissionais de diversas áreas que foram aprovados no concurso público de 2009, mas que ainda não foram convocados.
Existe, inclusive um processo judicial exigindo que esses aprovados e classificados trabalhem no Hospital. Existe também a denúncia por parte do Sindicato, sobre assédio moral praticado por funcionários terceirizados.
"Esses profissionais que entram por indicação, além de terceirizados são treinados para a coação. Por exemplo, quando um profissional se recusa a fazer um plantão extra, ele acaba não entrando mais em escalas ou se ele não pode fazer uma hora extra, então ele não consegue mais trocar plantões ou conseguir qualquer tipo de concessão, ou seja, ele é penalizado continuamente".
Os problemas estruturais e de equipamentos também afetam o Hospital, que está há alguns meses sem realizar exames básicos como hemogramas. "Só há um equipamento para cada tipo de exame e eles já estão antigos e apresentando problemas", finaliza.
Até o fechamento da matéria a Secretaria Estadual de Saúde ainda não havia sido notificada sobre a paralisação, de acordo com informações da assessoria de comunicação. A equipe de reportagem tentou contato com o diretor geral do Dirceu Arcoverde, Guido de Fontgaland, mas não obteve resposta.
Enfermeiros discutem exercício da profissão
Ontem (19), Parnaíba também foi palco para o Encontro Regional de Enfermagem. O evento estava voltado para a capacitação e atualização de auxiliares, técnicos e enfermeiros, através de palestras, mesas redondas e cursos.
Na oportunidade ainda foi abordada a imunização do profissional, promovendo o esclarecimento de dúvidas sobre questões éticas e reunião com responsáveis técnicos de hospitais na região.
O Encontro também foi o ponto de partida para implantação de conselhos de ética de enfermagem em todos os grandes hospitais piauienses, iniciando pelo Hospital Regional Dirceu Arcoverde e Secretaria Municipal de Saúde de Parnaíba.
"A implantação dos conselhos deverá acontecer através de processo eleitoral para a escolha dos membros, que ocorrerá durante todo o mês de agosto.
Em seguida partimos como mesmo processo em outros municípios e hospitais", afirma a presidente do Conselho Regional de Enfermagem, Silvana Santiago.
No estado do Piauí já existem 20 mil profissionais da enfermagem registrados no Coren e deste número, 15 mil são técnicos e auxiliares de enfermagem.
Com a expressão dos dados, a presidente Silvana Santiago considera importante promover a discussão do exercício da profissão, além da implantação de comitês de ética no estado. A segurança do paciente e o trabalho ético são temas, segundo a presidente, bastante relevantes e emergentes na atualidade.
"Todos os dias o profissional de enfermagem sai para trabalhar com a melhor das intenções, mas isso não é reconhecido, e quando um pequeno erro cometido pelo enfermeiro acontece, ganha imensas proporções.
Precisamos discutir e trabalhar de forma para evitar o erro, e o nosso grande desafio nessa questão é acerca da administração de medicamentos. Procuramos garantir em conjunto a segurança do paciente e a segurança do profissional", enfatiza Silvana Santiago.