A notícia de que foi encontrada opala em Marte chamou a atenção dos piauienses, que bem conhecem a pedra encontrada no Piauí. A pedra preciosa e super exclusiva também é encontrada em outras variações na Austrália, México e Etiópia. No entanto, a melhor deste mundo, pelo menos, é a piauiense, mais precisamente de Pedro II.
Quem explica isso é Áurea Brandão, designer de joias e empresária do segmento há 36 anos. Pioneira na lapidação da pedra, ela conta que a opala piauiense é a mais dura do mundo, o que permite que ela seja melhor trabalhada. "Normalmente a opala é de dureza baixa e não tem uma boa resistência ao calor. E na hora de fazer uma joia tem que usar fogo. Em uma escala de 10, ela tem dureza de 6, como uma esmeralda. É mais resistente ao fogo e a água que a encontrada em outras regiões", explica.
Diferenciadas
As pedras são diferenciadas pelas cores e têm em comum a grande presença de água na composição. Daí a importância da descoberta da pedra lá em Marte, o que indicaria a presença de água no planeta.
"No Piauí e na Etiópia tem a opala branca com furta-cores. A de Buriti dos Montes, também no Piauí, é igual a do México, que é a opala de fogo, de cor alaranjada. A opala negra só tem na Austrália e é considerada a mais rara de todas", explica Áurea.
Grande valor econômico
Ao saber das opalas marcianas, a empresária conta que riu muito da história. "Pensei que era brincadeira, mas é verdade. Encontraram opalas em Marte. No entanto, não dá para saber a cor. Só que a rocha encontrada foi classificada como opala. Na hora que saiu, vários clientes mandaram para mim a notícia", aponta.
Valor econômico
As opalas têm grande valor econômico em Pedro II, sendo a principal commodity do município. "A gente participa de feiras internacionais de pedras. Além das nacionais. O país que mais consome nossas joias é os Estados Unidos, em seguida o Japão. Europa consome muito também. É uma pedra mais conhecida fora do Brasil que aqui e está entre uma das mais caras do mundo pela raridade", revela Áurea Brandão.
Somente em Teresina, pelo menos cinco lojas comercializam joias de opalas. Dona Áurea é proprietária de um estabelecimento em Pedro II e outro na capital, localizado na Central de Artesanato Mestre Dezinho. Os broches e pingentes de mosaicos de opala, como aquele famoso que é o mapa do Piauí, são os mais procurados, além de serem as peças mais acessíveis.
As lindas e preciosas pedras
As opalas do Piauí se originam a partir de um processo geológico hidrotermal que ocorreu ainda no processo de separação dos continentes. Durante a fragmentação da Pangeia, o último supercontinente que existiu há cerca de 300 milhões de anos. No processo de separação dos continentes, onde a América do Sul e a África eram unidos, processos de vulcões e falhas geológicas deram origem ao magma, uma matéria super quente, que ocorreu em todas as bacias sedimentares brasileiras.
Processo
A bacia sedimentar do Parnaíba, localizada entre o Maranhão e o Piauí, também passou por esse processo. Mas ao contrário do Maranhão, onde essa matéria quente submergiu, no Piauí ela chegou apenas próximo da superfície, dando então origem a essas pedras que hoje são procuradas para compor em joias, braceletes, colares, brincos e demais acessórios.
A opala do Piauí é feita sob altas pressões e fluidos quentes. "O magma para debaixo do arenito, que é cheio de água. Ele vem com milhares de graus. E a água, basta 100 graus, que ela ferve. Ao subir, ela faz um movimento de convecção. Ela quente e sobe, aí esfria e desce, dissolvendo a sílica. Então a água vai ficando rica em sílica. Quando o processo esfria, o magma vira rocha e se torna saturada em sílica, se precipitando em opala e outras pedras", explica Érico Gomes, geólogo, estudioso das opalas e professor do Instituto Federal do Piauí (IFPI).
Visualmente, as opalas piauienses e australiana se parecem.
"Empresas australianas passaram um tempo explorando e comercializando a nossa opala como se fosse lá. As características são parecidas e isso causa confusão no mercado. A cor da opala é um efeito óptico. Ela é formada de pequenas esferas, e a luz quando atravessa faz uma difração da luz, quebrando a luz branca em vários aspectos de cores", avalia Érico Gomes.
Mais de 90% das opalas do mundo são da Austrália, além da Etiópia, que hoje produz mais do que o Brasil. "Também há produção no México, Filipinas e Nova Zelândia", finaliza o geólogo.