Um morador de Alphaville, condomínio de alto padrão na Grande São Paulo, que era suspeito de violência doméstica contra a mulher durante a quarentena, aparece num vídeo que circula nas redes sociais ameaçando agredir um policial militar, dizendo que ganha "R$ 300 mil por mês", o chama de “lixo” e xinga ele e uma policial com palavrões em frente à sua residência, em Santana de Parnaíba. Ele resistiu, mas foi detido. Depois acabou liberado.
O empresário de 49 anos foi levado algemado para a Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) da cidade, mas foi solto porque sua esposa, uma operadora bancária de 46 anos, não quis representar criminalmente contra ele naquele momento (apesar disso, ela tem prazo legal de até seis meses para fazer a representação). Em depoimento à Polícia Civil, o homem negou que tenha ameaçado a mulher e afirmou que não se lembra de ter ofendido os policiais.
Na gravação do vídeo é possível ouvir as ofensas do homem aos PMs. As imagens viralizaram ao serem compartilhadas, causando indignação principalmente em policiais, que se manifestaram publicamente em grupos na web repudiando os xingamentos.
Entre as coisas que o comerciante falou aos agentes da Polícia Militar estão:
“Você pode ser macho na periferia, mas aqui você é um b* [palavrão]. Aqui é Alphaville, mano”,
“Você não me conhece”;
“Eu ganho R$ 300 mil por mês”, “você é um m* [palavrão] de um PM que ganha R$ 1 mil”;
“Eu vou te chutar na cara”, “tenho uns 50 caras pra enfrentar você”;
As ofensas foram ditas principalmente a um cabo da Polícia Militar (PM), de 43 anos, que foi ao local, na Alameda dos Tagetes, acompanhado de uma soldado da corporação, de 36. Ambos foram atender ao chamado da moradora, que é casada com o comerciante.
Numa das poucas falas ditas pelo PM no vídeo ao comerciante é possível ouvir: “Mas você não é homem de vim [sic]”.
Ao fim da gravação, o homem ainda xinga e a ponta a mão para uma policial feminina que estava atrás de um carro: “Você e essa p* [palavrão] do caralho”.
Segundo os PMs, a esposa tinha dito que o marido estava violento e agressivo com ela após beber. De acordo com o registro do caso, feito na delegacia, a operadora telefonou para a Polícia Militar pedindo ajuda porque o comerciante “havia feito uso de bebidas alcoólicas, e durante o dia todo, a ofendeu com diversos xingamentos”. O casal está casado há 20 anos e tem dois filhos.
Ao chegarem ao local, os agentes da PM contaram que a mulher saiu de dentro da residência com a filha no colo, mas o homem também apareceu “totalmente alterado" e passou a ofender e ameaçar a equipe. A criança e a mulher presenciaram as ofensas na garagem.
O cabo afirmou que “pediu calma” ao comerciante, mas “ele se recusava a conversar com os policiais e continuava a ofendê-los” da porta da casa.
Vídeo e ofensas
Nas imagens que circulam nas redes sociais, o homem aparece falando no celular e pedindo ajuda a alguém, enquanto é observado pelos policiais. Durante a exibição do vídeo, eles não aparecem apontando as armas para o comerciante, que berra ao telefone:
“Um f* [palavrão] de um polícia de m* [palavrão]. Querendo invadir minha casa e me levar preso. Por favor, vem pra cá agora”, diz o homem no telefone.
Enquanto isso, a mulher dele diz algo ininteligível e sai da casa com a criança no colo, ficando na garagem. O comerciante fica parado na porta da casa falando ao telefone:
“Vem pra cá e me ajuda. Porque esse b* [palavrão]. Esse gordo f* [palavrão] tá achando que ele é o quê?”
Quando o policial militar parece caminhar, o comerciante grita e o ameaça de agressão:
“Não pisa na minha calçada. Não pisa na minha rua. Eu vou te chutar na cara, f* [palavrão]” e em seguida diz: “Você é um lixo, seu m*[palavrão]”.
Quando pede ajuda, o comerciante diz os nomes de duas pessoas que conheceriam ou seriam ligadas a pessoas envolvidas com segurança de algum lugar:
“Traz o segurança de segurança pública. Traz o secretário que você tem que trazer e leva esse f* [palavrão] da p* [palavrão] pra casa do c* [palavrão]”
Enquanto isso, o homem insiste que quer a saída do policial da frente da sua residência:
“Mas tira esse lixo da minha casa”, fala. “Eu quero ver [ininteligível] se não tenho uns 50 caras pra enfrentar você.”
Nesse momento, o agente da PM diz:
“Mas você não é homem de vim [sic]”.
E o comerciante responde:
“Eu não sou mesmo. Sabe por que? Porque você é um b* [palavrão]. Porque você é um m* [palavrão] de um PM que ganha R$ 1 mil. Eu ganho R$ 300 mil por mês”.
Policiais que assistiram ao vídeo e demonstraram indignação, disseram que o salário de um cabo da PM pode chegar a R$ 4,5 mil.
Na última parte do vídeo, o comerciante volta a ofender o policial militar:
“Você não me conhece. Você pode ser macho na periferia, mas aqui você é um b* [palavrão]. Aqui é Alphaville, mano”.
E pede para o PM se aproximar e depois o ameaça processá-lo na Justiça:
“E aí? Sobe aqui. Quero ver se você é macho de vir aqui. Você vai ver o processo que você vai responder na sua vida”.
Em seguida termina o vídeo com o homem xingando a policial:
“Você e essa p* [palavrão] do caralho”.
Em seu depoimento à Polícia Civil, o comerciante negou ter “ameaçado ou ofendido” a esposa, e disse que tudo "não passou de uma discussão entre casal”.
Ele contou ainda que a mulher “arremessou o controle remoto e outros objetos contra ele, mas que não chegou a machucá-lo”.
Quando ela chamou a PM, ele contou que “neste momento estava muito nervoso, e que não se lembra do ocorrido”. Respondeu ainda “não se lembrar” de ter ofendido os policiais.