Após mais de cinco anos, a empresária Andressa Ramos de Araújo vai a júri em São Paulo, nesta quarta-feira (12), acusada de matar o marido, o representante comercial Sérgio Fernandes, com um tiro na nuca enquanto ele dormia.
Segundo o Ministério Público (MP), Andressa cometeu o crime para ficar com os bens adquiridos pelo casal. A ré, que responde ao processo em liberdade, nega a acusação: alega que agiu em legítima defesa após ter sido traída, xingada de "gorda" e apanhado de Sérgio. Segundo ela, o disparo foi acidental.
O crime foi cometido na residência onde eles moravam, em 24 de janeiro de 2013, na Zona Leste da capital. O julgamento do caso está marcado para começar às 13h, no Fórum Criminal da Barra Funda, na Zona Oeste. Ana Helena Rodrigues Mellim é a juíza do processo.
A mulher deveria ter sido julgada no dia 13 de agosto, mas a magistrada adiou o júri para esta quarta após a Promotoria juntar novos documentos ao processo.
De acordo com o advogado de Andressa, Davi Gebara, como a defesa da ré não teve acesso para analisar o material em tempo hábil, a juíza remarcou uma nova data para o julgamento.
“Foram juntados documentos e a juíza decidiu adiar o júri para que eu pudesse ter tempo de me inteirar do conteúdo do material”, falou Gebara ao G1, que se mostra confiante com o julgamento.
“Acredito na absolvição da minha cliente”, disse o advogado de Andressa. Para a Promotoria, no entanto, Andressa tem de ser condenada porque premeditou o assassinato do marido, com quem estava casada havia 12 anos e tem um filho. Além disso, ela teria modificado a cena do crime, carregando o corpo enrolado numa coberta até a garagem. Em seguida se desfez da arma.
A mulher estava com 28 anos à época. A vítima tinha 33 e a criança, 4. O garoto também dormia no imóvel quando o pai foi morto.
Acusação
Andressa é acusada de homicídio doloso (com intenção) qualificado por motivo torpe e impossibilidade de defesa da vítima, além de fraude processual. A Justiça negou o pedido do MP para que ela ficasse presa preventivamente até ser julgada.
“A tese acusatória é de que houve premeditação. Havia um interesse patrimonial na morte do marido”, chegou a dizer o promotor Leonardo Sombreira Spina, antes do adiamento.
Ele disse basear sua acusação em provas periciais e laudos técnicos.
“A versão dela de legítima defesa é incompatível. Ela matou a vítima enquanto dormia, e com um tiro na nuca”, falou o promotor.
Testemunhas da acusação que serão ouvidas contarão, por exemplo, que Francisco deu antes do crime um carro Space Fox a Andressa. O representante comercial ainda era dono de outros dois veículos: um BMW e uma picape Ranger. Segundo a investigação, a empresária ganhou também do marido um salão de cabelereiro para ser dona e administrar.
Defesa
Mesmo em liberdade, Andressa irá comparecer ao seu julgamento, de acordo com seu advogado. “Tenho consciência de que ela será absolvida pelos jurados. Foi legítima defesa”, afirmou Gebara, que alega ter diversos boletins de ocorrência que comprovam que a ré sofria violência doméstica.
“Ela vinha sofrendo histórico grande de violência moral e física”, disse o seu defensor.
A reportagem não localizou Andressa para comentar o assunto. Em 2013, ela falou ao G1 que não teve intenção de matar o marido, mas de se proteger dele.
“Ele chegou embriagado, gritando: ‘Hoje eu é que vou dormir na cama. Sai daí’. Depois vi os ‘torpedos’ [mensagens de outras mulheres no celular]. Em seguida, gritou para eu parar de mexer nas coisas dele. Então eu perguntei se era isso o que ele fazia enquanto trabalhava e cuidava do nosso filho e de nossa casa”, disse Andressa naquela ocasião.
“Ele falou que eu não sabia me cuidar. Me chamou de 'gorda' e por isso buscava outras mulheres na rua”, disse Andressa.
A empresária contou ainda ter encontrado a arma, que, segundo ela, era do marido, numa gaveta, junto com o telefone.
"Ele me viu e falou que iria me matar. Depois escutei um disparo e me escondi. Não tive intenção de matá-lo. Foi uma tragédia”, disse Andressa sobre o tiro