Ele disse sim: histórias de mulheres que pediram homens em casamento

Se o futuro é delas, nada mais justo que a iniciativa também seja

Casamento | Silvana Mattievich
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Kassel, Alemanha, século XIX. Os irmãos Grimm, ilustres moradores da cidade, criam alguns dos contos de fadas que, anos depois, serviram de inspiração para Walt Disney colocar no imaginário popular princesas como Branca de Neve e Rapunzel. Na versão dos desenhos, tais mocinhas só encontram a felicidade depois do aparecimento de um príncipe encantado, pronto para salvá-las das maldades de... outras mulheres perversas.

Kassel, Alemanha, século XXI. Nem aí para essas histórias e mais interessada nas exposições que fazem da cidade um polo de arte, a artista plástica paulistana Cal Kielmanowicz aproveita o belo cenário de pôr do sol de uma tarde de maio, em 2017, para mostrar ao namorado, o antropólogo Franklin, que ela não tinha nada a ver com as princesas “nascidas” nos arredores.

“Peguei capinzinhos no mato, enrolei no dedo dele e no meu e falei de forma até bem clássica: 'Franklin, você quer casar comigo?'” conta Cal, hoje aos 33 anos.

Silvana Mattievich 

Cal faz parte de um pequeno, mas pujante, grupo de mulheres que começou a ocupar um espaço mais ativo nas decisões do futuro do relacionamento sem pudores. Diante de crescentes conquistas, por que as mulheres não podem ser atuantes numa decisão tão importante na formação de uma família? Foi o que pensou também a designer carioca Fernanda Serodio, que comprou alianças na surdina e fez com que o gato do casal às levassem até o namorado.

“Quando conto essa história, as pessoas ficam meio chocadas porque não é comum. Nossa sociedade machista e patriarcal acha que mulheres não têm que fazer isso”, diz Fernanda.

Por mais que as mulheres tenham assumido um protagonismo em diferentes áreas, inclusive nos relacionamentos, ainda carregam uma espécie de programação social de micromachismos, observa o psicólogo Claudio Paixão, da Escola de Ciência da Informação da UFMG:

“As pessoas falam de amor romântico, mas ainda vivem o amor arcaico”.

No meio disso tudo, há quem enxergue no empoderamento feminino e na mudança de comportamento uma possibilidade de fazer negócios, como o Governo de Aruba. O órgão de turismo que divulga a ilha caribenha para o mundo começou, no ano passado, a “oferecer” seu cenário paradisíaco a mulheres que queriam pedir os namorados em casamento. O resultado foi a campanha “He said yes”, que teve até vídeos em português para divulgar os pacotes promocionais para as interessadas.

“Expressar o amor não deve ser algo imposto por gênero ou regras”, disse, à época, Miriam Dabian, diretora para a América Latina, mostrando que, nesse pequeno pedaço de terra, o marketing anda de olho no empoderamento.

A jornalista gaúcha Jerusa Campani, de 31 anos, não precisou do empurrão turístico de Aruba, mas fez um pedido também inesquecível. O namorado, Márcio, é fã de Paul McCartney. Foi num show do Beatle, em 2017, que ela tirou as alianças do bolso para mudar o vida do companheiro. Aos prantos e ao som de “In spite of all the danger”, ele disse “sim”; horas mais tarde, a agradeceu no Instagram por ter ignorado “padrões ou fórmulas que alguém inventou e que todo mundo segue”.

Essa tal norma tem muito a ver com a forma como as mulheres lidam com a rejeição, diz a antropóloga Mirian Goldenberg. O comportamento passivo não traz liberdade, mas também não coloca a mulher na linha de frente de derrotas.

“Não fomos criadas para tomar iniciativas e aguentar receber um “não”. Se desde pequena fôssemos acostumadas, seria mais comum e menos doloroso”, diz Mirian.

A carioca Luisa Mattos, por sua vez, optou por um papo reto: chamou Rafael para uma conversa franca e deixou bem claro que queria subir ao altar, como sempre sonhou.

"Falei sério, uma coisa “vai ou racha”. Para mim era importante e, se ele não levasse em consideração, ia repensar nossa relação", diz Luisa, que casou de véu e grinalda meses depois.

Se o futuro é delas, nada mais justo que a iniciativa também seja.

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