Muito abalado e chorando, Daniel Suares, marido da dona de casa, Claudia Lago de 33 anos, que morreu após ser baleada durante troca de tiros entre criminosos e policiais militares, disse ao G1 na manhã desta quarta-feira (5) que a esposa tinha medo da violência na cidade.
Ela foi atingida quando estava com o filho no Posto de Atendimento Médico (PAM), em Coelho Neto, no subúrbio do Rio de Janeiro.
"Ela era uma mulher muito amável e carinhosa e tinha medo da violência. Ela evitava deixar o filho na rua até tarde e evitava ir a certos lugares", contou o balconista de 32 anos, que estava no Instituto Médico-Legal (IML) à espera da liberação do corpo da mulher.
De acordo com ele, o filho de 10 anos, que estava com a mãe na unidade de saúde, já recebeu a notícia sobre a morte dela e chorou muito. Ele estava dentro de um dos consultórios do PAM, quando a mãe saiu para ir à farmácia e foi baleada. O casal estava juntos há 12 anos.
"Mais para frente que eu vou pensar em alguma coisa para fazer. Realmente não dá para uma coisa dessa acontecer dentro de um PAM, cheio de crianças e idosos", completou Daniel, que acrescentou ainda que souba da morte da esposa pela diretora da escola do filho.
A vítima estava no Centro de Terapia Intensiva (CTI) do Hospital Carlos Chagas, em Marechal Hermes, no subúrbio da cidade, onde morreu. O enterro deve ser ainda nesta quarta, no Cemitério Jardim da Saudade. Segundo a secretaria, a coordenação do PAM de Coelho Neto informou que o filho de Claudia receberá atendimento psicológico.
Assaltantes em fuga
Assaltantes em fuga invadiram o local e trocaram tiros com os PMs. Um criminoso, identificado como Leonardo Carvalho, foi baleado e morreu. O comparsa sequestrou um ônibus de excursão, que transportava cerca de 40 crianças, e mandou que o motorista o deixasse no Morro da Pedreira, em Costa Barros, no subúrbio do Rio.
"O médico que fez a cirurgia me contou que a bala entrou nela fazendo um buraco pequeno, na lateral direita do abdômen, e que saiu fazendo um rombo pela nádega esquerda dela. Segundo o médico, a bala era de grosso calibre", disse Daniel Suares.
Cláudia Lago foi submetida a uma cirurgia, que durou quatro horas meia. De acordo com a Secretaria estadual de Saúde, a bala atravessou o abdômen e saiu pelo glúteo, provocando lesão óssea, obstruindo também o intestino, o reto e o baço. Após o término da cirurgia, ela foi encaminhada para leito de UTI da unidade.
De acordo com marido, esposa não foi pega como refém
O marido de Cláudia contou ainda que, mesmo baleada, a esposa ainda conseguiu ligar para uma amiga que mora próxima ao PAM de Coelho Neto. "Ela ainda teve forças para isso, mesmo após o tiro", conta ele. A amiga chamou a filha e as duas foram até o PAM, onde ajudaram no socorro a Cláudia.
Trajeto do crime
Segundo a Polícia Militar, tudo começou na Avenida Pastor Martin Luther King, antiga Automóvel Clube, quando uma equipe da PM tentou interceptar a dupla de criminosos, que estava em um Gol.
Os criminosos tentaram escapar invadindo o PAM, em Coelho Neto. De acordo com a PM, o local foi cercado e houve troca de tiros. A polícia diz que Cláudia Lago foi baleada na barriga pelos assaltantes.
Após a confusão, o outro assaltante invadiu o ônibus de excursão que saía do Colégio Interativo, vizinho ao PAM, e obrigou o motorista a levá-lo ao Morro da Pedreira, onde fugiu e liberou os reféns. O carro dos criminosos ficou próximo ao PAM com várias marcas de tiros.
Motorista lembra de momentos de pânico
Na delegacia, o motorista lembrou do momento de tensão, "Eu estava no lugar errado na hora errada", contou Marco Antônio Pereira. Ele contou que levava 40 crianças para o Norte Shopping quando foi abordado. O criminoso mostrou a arma para o motorista e indicou um caminho que seria de uma boca de fumo. ?Ele disse que não queria machucar ninguém, só queria fugir?. Após chegar ao local indicado pelo suspeito, Marco retornou ao colégio com as crianças.
Atendimento será retomado quinta
O atendimento no PAM, em Coelho Neto, foi interrompido e as consultas serão reagendadas. A unidade ficará fechada nesta quarta-feira (5) para perícia. As consultas agendadas serão remarcadas por telefone.
De acordo com a secretaria, pacientes que não forem procurados devem procurar o PAM para saber a nova data na quinta (6) ou a partir de segunda (10).