A participação na COP30, realizada em novembro em Belém, mudou o ritmo do negócio da confeiteira paraense Leila Campos. Após receber uma encomenda de 900 bombons artesanais para o evento, a empreendedora viu as vendas dispararem e passou a registrar pedidos diários. Há 15 anos, ela produz chocolates recheados com doces de frutas amazônicas na própria casa, em Vila do Apeú, distrito de Castanhal (PA).
Do doméstico ao profissional
O que começou como um trabalho doméstico ganhou estrutura familiar. Leila deixou o emprego de doméstica há dois anos para se dedicar à produção de bombons moldados à mão, sem o uso de formas ou doces industrializados. “Não uso forma, os bombons são moldados na mão. E não uso doce industrializado. Faço da fruta mesmo, naquela panela grossa, tradicional. Eu priorizo a qualidade do produto”, afirma. Segundo ela, o diferencial de ter “mais recheio do que chocolate” tem agradado clientes de fora do estado.
Aceitação do público estrangeiro
Os chocolates foram vendidos pelo Nanay Café na chamada zona azul da COP30, área destinada às negociações oficiais da conferência. A proprietária do espaço, Nayana Lima, explica que a escolha pelos bombons levou em conta o perfil regional do produto. “Visitamos Castanhal, provamos e percebemos a qualidade: bombons artesanais, recheio generoso e sabor marcante. Era exatamente o tipo de doce paraense que queríamos oferecer”, disse.
Segundo Nayana, o público estrangeiro estranhou inicialmente sabores como cupuaçu e castanha-do-pará combinados com chocolate. “Quando provaram, começaram a comprar e levar para presentear. Zeramos o estoque”, relatou.
Produção em família
O negócio é tocado com apoio da família. O filho Luan, de 19 anos, formado em gastronomia, participa diretamente da produção; o marido auxilia nas compras, e outro filho cuida da contabilidade. Antes da COP30, Leila trabalhava com um “quarteto” de sabores: cupuaçu, castanha-do-pará, bacuri e açaí. Para a conferência, criou um bombom especial inspirado no sabor COP30 da tradicional sorveteria Cairu, misturando cupuaçu, pistache e castanha.
“Para mim, não há nada melhor do que quando eu vejo alguém mordendo o meu bombom e dizendo: ‘Ai, que delícia’, ‘que coisa gostosa’”, afirma Leila.
Apoio e próximos passos
A confeiteira começou a carreira aos 14 anos como empregada doméstica e entrou na confeitaria após incentivo de uma amiga. O passo definitivo veio depois de buscar orientação no Sebrae, onde aprendeu a estruturar a marca, organizar finanças e usar o Instagram como principal canal de vendas. Hoje, trabalha apenas com encomendas.
Com pedidos de clientes que levam os doces para outros estados, Leila planeja ampliar a distribuição, embora enfrente dificuldades logísticas. “Já tive pedidos do Rio, Porto Alegre e São Paulo, mas o frete ainda é um grande desafio”, explica. Para complementar a renda, ela voltou a trabalhar meio período como merendeira, sem perder o objetivo principal: “Quero, no futuro, viver só dos bombons”.