Os Estados Unidos registraram um aumento expressivo nos pedidos de falência empresarial ao longo de 2025. Segundo dados divulgados pela S&P Global Market Intelligence e publicados pelo The Washington Post, pelo menos 717 grandes empresas americanas entraram com pedido de falência até novembro, o maior número desde 2010. O crescimento foi de 14% em relação ao ano anterior, refletindo impactos econômicos associados ao tarifaço imposto pelo governo Donald Trump sobre produtos importados.
O objetivo da política tarifária era fortalecer a indústria nacional e incentivar a geração de empregos internos. Entretanto, o efeito observado foi o oposto: crescimento nas falências, aumento no desemprego e pressão sobre setores que dependem de cadeias globais de produção.
Indústria lidera pedidos de falência
As empresas afetadas apontam três principais fatores para a crise: aumento de custos, crédito restrito e efeitos diretos do tarifaço, como encarecimento de insumos e ruptura no fornecimento internacional. O setor industrial, que engloba manufatura, construção e transporte foi o mais impactado, com 110 pedidos de falência corporativa. Somente nesse segmento, mais de 70 mil vagas de trabalho foram encerradas no último ano.
Enquanto isso, o desempenho positivo de empresas de tecnologia e inteligência artificial contrasta com o declínio de outros setores, configurando o que economistas descrevem como “K-shaped economy”, cenário no qual parte da economia cresce enquanto outra despenca.
Empresas e famílias sob pressão
Mudanças na política ambiental também contribuíram para o cenário negativo. A suspensão de incentivos para energia limpa, veículos elétricos e painéis solares reduziu a competitividade de negócios ligados ao setor. Apesar do número elevado referente às grandes corporações, analistas destacam que os registros representam apenas uma parcela da crise.
O American Bankruptcy Institute aponta que falências pessoais subiram 8% no ano, totalizando 40.973 pedidos até novembro. Em paralelo, levantamento da Epiq Bankruptcy Analytics revela que mais de 2.300 micro e pequenas empresas recorreram ao Subchapter 5, modalidade de recuperação judicial para negócios com dívidas inferiores a US$ 7,5 milhõe, alta de quase 10% em relação a 2024.
“Aumento dos custos, condições mais restritivas de crédito e volatilidade geopolítica continuam a pressionar famílias e empresas que já enfrentam dificuldades financeiras”, afirmou Amy Quackenboss, diretora-executiva do American Bankruptcy Institute, em entrevista ao Business Insider.
Microempresas também sentem o impacto
Grande parte dos pedidos no Subchapter 5 envolve microempresas familiares, conhecidas como mom-and-pop businesses. Para essas companhias, o crédito mais caro e a queda de consumo tornam a manutenção das operações ainda mais difícil.
“Os credores estão no encalço dessas pessoas”, declarou Carol Fox, administradora judicial responsável por dezenas de processos na Flórida, em entrevista à Bloomberg.
Com a continuidade das políticas tarifárias e incertezas no ambiente global, analistas avaliam que o ritmo de falências pode permanecer elevado em 2026. O desempenho das grandes corporações e a recuperação das pequenas empresas serão pontos chave para medir a reação da economia americana nos próximos meses.