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Tarifaço de Trump abre caminho para invasão chinesa no mercado brasileiro; entenda!

Alta dos impostos americanos acelera internacionalização da China e acende alerta na economia brasileira.

Brasil e China são grandes parceiros comerciais e podem estreitar as relações. | Foto: Alan Santos/PR
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A intensificação da guerra tarifária entre Estados Unidos e China provocou reações imediatas nos mercados financeiros, mas os reflexos desse embate ultrapassam as bolsas de valores. O comércio internacional já começa a redesenhar suas rotas — e o Brasil desponta como um dos destinos mais visados pelos produtos chineses.

Desvio de rota comercial favorece países como o Brasil

A imposição de tarifas mais agressivas por parte dos Estados Unidos apenas antecipou um movimento que já vinha se desenhando, conforme analisa Vitor Moura, fundador da consultoria Lantau Business Answers e especialista da rede Observa China.

“As altas tarifas impostas pelos EUA sobre a China apenas aceleram um processo que já estava em andamento: a busca por novos mercados.

Com uma economia interna ainda em recuperação após a pandemia, a China vê na exportação uma saída para manter empregos e garantir renda à sua população. A chamada “estratégia de circulação dupla” — que pretendia fortalecer o consumo interno — avança de forma lenta, levando empresas chinesas a buscar alternativas no exterior.

País asiático aposta no tamanho do Brasil

O Brasil, com sua população de mais de 200 milhões de habitantes e dimensões continentais, surge como alternativa natural.

“O Brasil acaba chamando atenção pelo tamanho”,
resume Moura. Segundo ele, até empresas chinesas de médio porte, que antes focavam quase exclusivamente os EUA, agora passam a considerar seriamente o mercado brasileiro.

Esse novo perfil empresarial pretende vender diretamente ao consumidor brasileiro produtos de maior valor agregado, como scooters elétricas, painéis de energia renovável, itens de inteligência artificial e outras soluções tecnológicas que ainda não possuem produção expressiva no país.

Modelo chinês desafia indústria brasileira

A possível “invasão” de produtos chineses traz preocupações. A eficiência da produção asiática, com foco em custos baixos e escala massiva, ainda está distante da realidade industrial brasileira.

“O Brasil deveria usar isso como uma oportunidade de adaptação e desenvolvimento. Não dá para competir com a China lá em cima. O momento é de buscar parcerias locais e adaptar as tecnologias para a nossa realidade”,
defende Moura.

Parcerias e transferência de tecnologia como caminho

Para Jesse Guimarães, vice-presidente da Associação de Empresas Brasileiras na China (Bracham), o Brasil não pode apenas abrir suas portas ao capital estrangeiro sem planejamento.

“O Brasil não pode repetir o erro de aceitar qualquer investimento estrangeiro sem exigir contrapartidas”,
afirma.

Guimarães defende cláusulas de transferência de tecnologia nos contratos com empresas estrangeiras, para que parte do conhecimento desenvolvido fora do país seja internalizado e impulsione o setor produtivo brasileiro.

China vai às compras — e o Brasil precisa se proteger

Segundo Guimarães, a ofensiva chinesa é sustentada por uma política pública de internacionalização que incentiva ativamente as empresas do país a se expandirem para o mundo.

Antes, eles esperavam os compradores virem às feiras. Hoje, o governo chinês dá incentivos para que as empresas viajem e conquistem mercados no mundo inteiro.

Para não ser engolido por essa onda, o Brasil deve diversificar seus parceiros comerciais. A Índia, por exemplo, é vista como um ator neutro com grande potencial de cooperação. Já o Egito desponta como parceiro estratégico na produção de fertilizantes — insumo vital para o agronegócio brasileiro.

Inflação global e riscos de dependência

O efeito colateral da guerra tarifária pode ser sentido no mundo inteiro. O encarecimento de insumos e produtos, provocado pelas tarifas, tende a gerar inflação global. A saída, segundo Guimarães, está na busca por autonomia produtiva em áreas estratégicas e no fortalecimento de alianças comerciais que permitam ao Brasil resistir aos choques externos.

Entre ameaças e oportunidades, o Brasil está diante de um ponto de inflexão. O que se anuncia com a guerra comercial entre China e EUA é, para o país, um teste de maturidade econômica e política. O futuro das relações sino-brasileiras dependerá da capacidade do Brasil de se proteger — mas, principalmente, de se reinventar.

Os especialistas foram ouvidos pelo portal G1. 

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