O ano de 2012 terminou com grande prejuízo para os criadores do Nordeste. Segundo dados da pesquisa Produção da Pecuária Municipal, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), divulgada na última semana, a região perdeu 4 milhões de animais em 2012, quando o semiárido viveu a mais intensa seca das últimas décadas.
No ano passado, mais de 1.200 municípios decretaram emergência pela estiagem e precisaram ser abastecidas por carros-pipa. "A seca prolongada resultou na redução de muitos plantéis, sobretudo o de bovinos, causando impactos sobre a produção e produtividade de leite", diz a pesquisa.
Segundo os dados, a região contabilizou 1,3 milhão de bovinos a menos no ano passado --queda de 4,5% em comparação a 2011. Em Pernambuco, a diminuição do rebanho chegou a 24% do total. Na Paraíba foi ainda maior, com queda de 28%.
A criação de ovinos e caprinos também teve parte do rebanho reduzido com a perda de 696 mil e 784 mil animais, respectivamente. Já no setor aviário teve impacto menor, com redução de 797 mil galos, galinhas e frangos, num universo total de 137 milhões de animais.
Todos as demais espécies --com exceção dos coelhos-- também tiveram redução de animais em 2012, a exemplo de cavalos, jumentos, porcos, búfalos e codornas.
Objetivo de ações feitas na região é a convivência com o semiárido
Especialistas e líderes de entidades ouvidos pelo UOL foram unânimes em afirmar que a estiagem foi a responsável direta pela redução do rebanho ?que, ao longo dos anos, vinha apresentando aumento na região.
Segundo o coordenador da ASA (Articulação do Semiárido), Naidson Batista, o resultado negativo veio não só pela seca em si, mas pela falta de planejamento de políticas públicas de convivência com o clima do semiárido.
"Sem dúvida a queda veio em decorrência da estiagem, mas também é decorrente da falta de dimensão da política. Reconhecemos que foram feitas ações, mas estamos ainda num processo de transição da política de "combate à seca" para a perspectiva da convivência com o semiárido. Estamos ainda longe do ideal", disse.
Para o coordenador, o processo de construção de cisternas especiais (reservatórios subterrâneos de água) para consumo animal e uso para irrigação --as chamadas cisternas calçadão-- ainda é tímido, o que resulta na morte dos animais e perda de produções.
"Se tivéssemos um processo mais amplo de convivência, teríamos como garantir água não só para o ser humano, mas para os bichos, o que diminuiria radicalmente a mortandade", afirmou.
Para o presidente da Federação de Trabalhadores da Agricultura de Pernambuco, Doriel Barros, a morte de animais atingiu especialmente os pequenos criadores, que viram o rebanho dizimado pela falta de alimento.
"Foi muito grande o impacto na agricultura familiar. Com o crédito liberado nos últimos anos, muitos agricultores começaram a aumentar o seu rebanho, e como a seca foi muito grande, houve essa perda. Muita gente perdeu tudo", disse.
Além da seca, outro problema foi a praga que atingiu a palma forrageira --espécie de cacto resistente à seca e que serve de alimento para animais durante as estiagens.
"Isso acelerou a morte de animais, pois a palma era a principal alimento no semiárido. O prejuízo foi de muitos milhões, não dá para ter o valor exato. A bacia leiteira caiu mais de 70%, com isso você teve prejuízo às pequena fábricas que produzem queijo, iogurte. Foi um prejuízo muito grande", afirmou.
Seca em 2013 é a maior dos últimos 50 anos, diz meteorologista
A pesquisa do IBGE traz uma mapa de comparação de dados de chuvas, mostrando que grande parte do Nordeste teve menos de 600 mm de precipitações. Cada milímetro corresponde a um litro de água para um metro quadrado. "A área atingida pela seca em 2012 é visivelmente maior do que a de 2011", conclui a pesquisa.