Voc? prefere uma castanha ou um real? Se estiver em Palhano, no Cear?, prefira a castanha ? ela pode valer mais que a moeda oficial brasileira. Castanha, neste caso, ? a moeda emitida pelo banco social Artpalha, e que d? desconto no com?rcio local.
Com quase R$ 100 bilh?es em notas e moedas em circula??o, o real ? a moeda oficialmente aceita em todo o Brasil. Mas em mais de 30 locais do pa?s ele perdeu espa?o para moedas alternativas, emitidas por bancos sociais.
"A moeda social ? uma ferramenta para o desenvolvimento econ?mico local. A id?ia ? fazer com que o recurso daquela comunidade possa circular o maior tempo poss?vel dentro dela, gerando um ciclo virtuoso", explica Antonio Haroldo Pinheiro Mendon?a, coordenador geral de com?rcio justo e cr?dito da Secretaria Nacional de Economia Solid?ria, do Minist?rio do Trabalho e Emprego (MTE).
O funcionamento ? simples: no banco social, o consumidor troca reais pela moeda social em circula??o no seu bairro ou cidade. No com?rcio local, ele ganha desconto ao pagar com esse dinheiro. J? o com?rcio, se houver necessidade de efetuar compras fora da comunidade, pode desfazer a troca.
"O que acontece ? que sem a moeda social todo o dinheiro que entra sai, n?o fica nada na comunidade. Com real, geralmente as pessoas compram fora. J? com esse dinheiro (a moeda social) ? garantido que as pessoas comprem no bairro", diz Jo?o Joaquim de Melo Segundo, coordenador da Rede Brasileira de Bancos Comunit?rios e do Instituto Banco Palmas.
Circula??o
As moedas sociais circulam hoje em 33 comunidades de 31 cidades, a maior parte delas no Cear?. Em caso de munic?pios menores, a moeda circula por toda a cidade, caso do acara?, em Tamboril, e do paz, que circula em Paramoti. Em cidades maiores, como a capital Fortaleza, a moeda ? restrita a um bairro ? como o rios, da comunidade Granja Portugal.
J? os nomes em geral trazem palavras ind?genas ou remetem ? cidade ou ao pr?prio bairro. Assim, no munic?pio de Ocara circula o tupi; em Tau?, o quinamui?; e no bairro de Paju, em Maracana?, o maracan? ? moeda corrente.
O Banco Palmas, coordenado por Jo?o Joaquim, ? refer?ncia do projeto. No Conjunto Palmeiras, em Fortaleza, no Cear?, circulam hoje cerca de 25 mil palmas, aceitas em 240 pontos de com?rcio cadastrados. "O consumidor pode trocar real por palmas, porque o com?rcio d? desconto. Ent?o para o morador ? mais vantagem ter palma do que real", diz ele. O botij?o de g?s, por exemplo, pode sair at? 13% mais barato para quem paga com palmas.
Um levantamento feito pelo Instituto Banco Palmas mostra que os moradores da comunidade Palmeiras consomem mais de R$ 5 milh?es ao ano. "Mas a circula??o desses recursos era muito vol?til. A pessoa gastava tudo em grandes redes de supermercados, em shoppings", diz Mendon?a, do MTE.
Competi??o com o real
Toda moeda social emitida no Brasil ? lastreada em reais e parit?ria com a moeda oficial. Isso significa que, para cada sabi?, tupi, palmas ou maracan? emitido, o banco social tem um real guardado em caixa. Isso evita infringir a lei ? que restringe a emiss?o de dinheiro ao Banco Central (BC).
"Isso d? ao governo uma garantia de que n?o est? competindo com o real", diz o representante do Minist?rio do Trabalho. O BC reconhece hoje essas moedas sociais como receb?veis ? t?tulo que representa um valor real e que d? direito ao portador de receber um servi?o ou produto em troca (a mesma classifica??o do vale transporte).
N?o existe ainda, no entanto, uma regulamenta??o no BC sobre a emiss?o dessas moedas. Segundo Antonio Haroldo, essa regulamenta??o deve ficar pronta em outubro, durante um encontro de microfinan?as do ?rg?o. A recomenda??o, no entanto, ? que a apar?ncia das notas seja bem distinta do real. "Atualmente as confec?es seguem um tipo de papel, um conte?do mais profissional de elabora??o", explica ele.