Quase metade dos consumidores brasileiros, 48,5%, possui dívidas que comprometem entre 11% e 50% de sua renda, aponta dados da Sondagem de Expectativas do Consumidor, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), divulgados nesta sexta-feira (6). Esse número de consumidores sobe à medida que aumenta o nível de renda. Entre os que recebem até R$ 2.100, 38,7% têm gastos que ocupam esta parcela da renda. Entre os que ganham mais de R$ 9.600,01, o percentual pula para 56%.
De acordo com a coordenadora da pesquisa, Viviane Seda, esse nível de endividamento não é considerado preocupante. "Metade da renda comprometida não é um problema, mas com o passar dos 50% fica cada vez mais difícil administrar", afirmou. Por conta disso, ela acredita que ainda há espaço para um aumento do consumo sem pressão sobre os níveis de inadimplência. "O que acontece hoje é que o consumidor está com a confiança relativamente boa, mas cauteloso para compras", disse.
Inadimplência
A pesquisa mostra que, em relação a dívidas com atraso superior a 30 dias, 9% dos informantes estão inadimplentes. Entre os consumidores que ganham até R$ 2.100, esse percentual sobe para 19,1%. "As dívidas estão muito concentradas no cartão de crédito e no cheque especial", afirmou Viviane. Entre as modalidade da dívida em atraso, os mais citados foram cartão de crédito (com 48,2%), outras dívidas (com 24,7%) e crédito pessoal (10,4%).
A coordenadora do estudo lembra que o país já passou por situações de inadimplência considerada alta - em 2009 ela permaneceu perto dos 8% -, mas que conseguiu reverter o quadro quando a economia cresceu em ritmo mais acelerado que o verificado hoje. "O crescimento da economia influencia no emprego, que é o fator real para o consumidor ir às compras", explicou. "Então, apenas com a retomada da economia a inadimplência no País vai cair."
Segundo a pesquisa, 3,1% dos consumidores possuem mais despesas do que receitas, ou seja, os gastos ultrapassam mais de 100% da renda disponível familiar. A análise por classes de renda mostra que famílias com maior poder aquisitivo apresentam nível de endividamento inferior às de menor poder aquisitivo. Entre os consumidores com renda acima de R$ 9.600, apenas 0,8% estão com gastos acima de sua renda disponível enquanto os que possuem renda de até R$ 2.100 mensais esse percentual sobe para 5,0%.