Brasília ?Depois de contabilizar, entre 2011 e 2013, a menor média de crescimento econômico em duas décadas, de apenas 2% ao ano, o Brasil precisará passar por uma revolução. "E isso depende do próprio país e de seus líderes", afirma o economista Jim O?Neill, ex-comandante do Goldman Sachs Asset Management e criador do acrônimo Brics, grupo de nações emergentes que reúne, além do Brasil, China, Índia, Rússia e África do Sul.
Para ele, antes mesmo de o país eleger seu próximo presidente, em outubro, o desafio já foi colocado ao futuro governante: acabou a fase do crescimento fácil. Quando 2015 chegar, quem estiver no Palácio do Planalto verá que restou pouco do exército reserva de desempregados que inundava a economia. Mesmo sem qualificação, esse pessoal foi absorvido pelo setor produtivo, movimento que ajudou a derrubar a taxa de desocupação para o menor nível da história.
O próximo presidente vai se conscientizar, ainda, de que a urbanização transformadora de áreas remotas em cidades modernas, graças aos elevados preços das commodities agrícolas (produtos básicos com cotação internacional), começa a se esgotar. "Um novo ciclo de desenvolvimento pede passagem. Mas, para se fazer real e levar o país a um salto maior que 2%, reformas são necessárias", avisa O?Neill. No entender dele, as fichas têm de ser colocadas em ganhos de inovação e de aumento da produtividade. Não há outro caminho. Tirar mais gente da pobreza e garantir o legado da mobilidade social dependem disso.
Na avaliação do presidente da Consultoria Macroplan, Cláudio Porto, o diagnóstico de que o estímulo ao consumo, com crédito farto, seria a fórmula ideal para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) se mostrou equivocado. Porto vai além. A seu ver, a consolidação da moeda e a inclusão social, os motores da atividade nas últimas duas décadas, devem ser reforçadas para que o país possa dar um novo salto. "O Brasil precisa pensar na qualidade do crescimento", afirma.
Para ele, concluir a estabilização da economia, reduzindo a inflação a níveis internacionais, entre 2% e 3% ao ano, torna-se cada vez mais urgente. Para ele, é esse processo incompleto que impõe à economia taxas de juros elevadas e levanta barreiras onerosas ao setor privado, sobretudo ao limitar o surgimento de empreendedores. "Dessa maneira, o Brasil será sempre um país de segunda divisão", classifica.
O desafio é manter o crescimento com ganhos de inovação e de produtividade. O Brasil, como mostram dados da associação de pesquisa Conference Board ? números que foram tratados por Bernard Appy, diretor da LCA Consultores ?, nunca se preocupou em produzir mais com a mesma quantidade de recursos. Nas últimas cinco décadas, a produtividade do trabalho aumentou 121%. Os Estados Unidos, mesmo tendo uma base bastante elevada, avançaram, no mesmo período, 129%. Já o Japão teve incremento de 461%; a China, de 1.262%; a Índia, de 361%; a Malásia, de 398%; a Coreia do Sul, de 922%; a Tailândia, de 712%; e o Chile, de 148%.
INFLAÇÃO E JUROS
Diante da leniência com a inflação por parte do governo, o custo para manter a carestia dentro de limites considerados toleráveis tem se tornado cada vez maior. Mesmo com a taxa básica de juros (Selic) em dois dígitos ?10% ao ano, podendo chegar aos 11% nos próximos meses ?, as expectativas em relação ao custo de vida não são favoráveis. Em 2015, pode haver ainda o estouro dos preços administrados, como as tarifas públicas.
Nem mesmo o Banco Central endossa o discurso de que em 2015 se poderá respirar aliviado com a inflação. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) se manterá muito acima do centro da meta, de 4,5%. Na projeção mais otimista, o BC fala, para aquele ano, em uma taxa de 5,4%. Os analistas, porém, estimam 6%.
A luta contra a inflação não dará trégua. Dada a disseminação dos reajustes ? mais de 70% dos produtos e serviços pesquisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registram aumentos todos os meses ?, ninguém descarta que, tão logo tome posse, o futuro ocupante do Palácio do Planalto tenha que promover uma nova rodada de aumento dos juros.
O problema desse quadro está no que os economistas chamam de "desancoragem", termo usado quando as expectativas para a inflação estão muito distantes da meta. Isso exige um custo adicional, na forma de mais juros, para controlar o custo de vida. Quanto maiores forem as estimativas para a carestia a longo prazo, mais penoso será para a população. "O ideal seria que o Brasil reduzisse a meta a ser perseguida pelo BC, talvez para 3% ao ano. Seria um forte indicativo de comprometimento do governo com o controle inflacionário", assinala Carlos Thadeu Filho, economista-chefe da Franklin Templeton.
Diante dos desafios que estão colocados, inclusive o de a economia brasileira ser rebaixada pelas agências de classificação de risco logo depois das eleições presidenciais de outubro, o Estado de Minas dá início hoje a uma série de matérias para estimular o debate e alertar que ainda não perdemos o jogo. O país do futuro está batendo à porta.