Depois de iniciar junho em ritmo acelerado, com captação acima de R$ 3,5 bilhões na primeira semana, a caderneta de poupança devolveu boa parte do dinheiro depositado. Nos cinco dias úteis seguintes, de 8 a 15 de junho, o saldo das aplicações ficou negativo em R$ 2,4 bilhões.
O movimento confirma o comportamento sazonal da poupança, de entrada mais forte de recursos no início de mês graças ao recebimento de salários e aposentadorias. No acumulado de junho, os depósitos ainda superam os saques em R$ 1,08 bilhão.
Os fundos de investimento também captam. No mês até o dia 15, as aplicações somavam R$ 589 milhões líquidos. No dia 16, mais R$ 4,2 bilhões entraram em fundos, elevando a captação em junho para R$ 4,8 bilhões. "Por enquanto, não há uma migração de recursos de fundos para a poupança", afirma Rodrigo Menon, sócio do escritório de aconselhamento financeiro Beta Advisors.
Competição com fundos
Segundo ele, apesar de a poupança ter ficado bastante competitiva com o juro básico a 9,25% ao ano - especialmente se comparada aos DI -, o investidor médio com dinheiro em fundos tem preferido esperar o governo se manifestar mais claramente sobre possíveis mudanças na tributação dos fundos.
Hoje, um fundo que renda exatamente a Selic e tenha taxa de administração acima de 1,2% ao ano, considerando a menor alíquota de imposto de renda de 15%, praticamente empata com a poupança. Segundo levantamento da Beta, enquanto o retorno líquido do DI é de 0,63% no mês (cálculo com base em 21 dias úteis), o da caderneta fica entre 0,55% e 0,6%. Mas sair do fundo para a caderneta pode não ser a melhor opção se o governo decidir taxar as aplicações acima de R$ 50 mil, diz Menon.
Na visão do executivo, mudanças na poupança devem ocorrer para manter a atratividade do setor de fundos e, com isso, preservar a grande fonte de financiamento da dívida pública. "A tributação da caderneta seria uma forma de não punir o pequeno poupador e desestimular qualquer saída de recursos dos fundos", diz.
Outro caminho que se discute são mudanças na tributação dos dos fundos, entre elas a unificação das alíquotas em 15%, independente do prazo. Só que no nível atual da Selic, a alíquota de 15% já deixa muito fundo em desvantagem. Mesmo que a tributação fosse reduzida para 10%, por exemplo, a diferença de retorno não seria tão maior: no caso do fundo DI com taxa de 1,2%, segundo a Beta, o retorno subiria para 0,66%.
Rentabilidade
Mexer na rentabilidade da poupança é inevitável, nem que seja no longo prazo, avalia o professor William Eid Junior, coordenador do Centro de Estudos em Finanças (CEF) da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo. "O ideal é atrelar o retorno da caderneta a um percentual da taxa Selic. "No curto e médio prazos, o professor acredita que o governo pode acabar diminuindo a tributação dos fundos.
Para compensar o juro menor, contudo, o investidor está revendo seu portfólio, afirma Menon. A alternativa tem sido a diversificação, ampliando a parcela de risco da carteira. "O investidor médio tem procurado mais fundos multimercados e ações para os recursos de longo prazo, mantendo em DI apenas a parcela de curto prazo". O Tesouro Direto também tem despertado o interesse do aplicador, diz ele.
Em junho, até dia 16, enquanto os fundo DI acumulam saques de R$ 770,8 milhões, segundo dados da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), os multimercados captam mais de R$ 1 bilhão. As carteiras de renda fixa, com mais liberdade para aplicar em títulos prefixados, indexados a inflação e privados, voltaram a atrair: R$ 1,2 bilhão em junho, sendo R$ 2,8 bilhões só no dia 16.