A proposta do ex-presidente Donald Trump de importar carne bovina da Argentina provocou forte reação entre os pecuaristas dos Estados Unidos. O republicano afirmou que considera a medida uma forma de reduzir os preços internos da carne, que atingiram níveis recordes nos últimos meses, e de fortalecer laços com o país sul-americano. A declaração, feita no domingo (19), rapidamente gerou críticas de representantes do setor agropecuário americano, que classificaram o plano como uma “ameaça ao mercado livre e aos meios de subsistência dos criadores de gado”.
Trump argumentou que a iniciativa beneficiaria ambos os países.
“Se comprarmos carne bovina agora, não estou falando tanto assim, da Argentina, isso ajudaria a Argentina, que consideramos um país muito bom, um ótimo aliado”, declarou o ex-presidente.
O governo Trump já havia ampliado uma ajuda de US$ 20 bilhões em swap cambial à Argentina, em um esforço de cooperação econômica entre os dois países.
Reação dos pecuaristas
A Associação Nacional de Pecuaristas de Carne Bovina foi uma das primeiras a reagir. Seu presidente-executivo, Colin Woodall, afirmou que a medida traria instabilidade para o mercado interno.
“Esse plano apenas cria o caos em uma época crítica do ano para os produtores de gado americanos, sem fazer nada para baixar os preços nos supermercados”, disse, em entrevista a agências internacionais.
Woodall e outros representantes do setor afirmaram que a importação de carne argentina poderia comprometer os lucros dos pecuaristas americanos, que vivem um momento de forte demanda e preços altos.
“Os criadores de gado estão finalmente se recuperando após anos de margens apertadas. Essa proposta pode colocar tudo a perder”, afirmou o executivo.
Críticas políticas e comerciais
A proposta de Trump também reacendeu críticas entre associações agrícolas e lideranças rurais. O presidente da União Nacional dos Agricultores, Rob Larew, afirmou que a decisão seria contraditória, especialmente depois de o governo americano ter concedido apoio financeiro à Argentina enquanto o país vizinho exportava soja para a China, um dos principais rivais comerciais dos EUA.
“A última coisa de que precisamos é recompensá-los importando mais de sua carne bovina”, declarou Larew, segundo a agência Reuters.
Os críticos apontam que a abertura para carne estrangeira poderia desvalorizar o produto americano e reduzir a confiança dos produtores no governo. Além disso, a medida poderia gerar impactos nas cadeias de suprimentos regionais e na estabilidade de preços internos.
Posição do governo e impacto econômico
Um porta-voz do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) defendeu que a administração Trump está empenhada em equilibrar o mercado.
“A agência está trabalhando para reduzir os preços da carne bovina e, ao mesmo tempo, apoiar os pecuaristas com ajuda em desastres e outros esforços”, declarou.
O porta-voz acrescentou que as ações do governo visam incentivar o aumento da produção nacional.
“Essas ações, juntamente com o trabalho do presidente Trump para garantir mercados duradouros para os produtores de carne bovina no exterior, enviam uma forte mensagem aos criadores de gado americanos — criem mais carne bovina e reconstruam o rebanho”, afirmou em nota à NBC News.
Efeitos limitados no mercado
Especialistas, no entanto, acreditam que o impacto da medida seria pequeno. O Steiner Consulting Group, citado pela Reuters, afirmou que os Estados Unidos não poderiam comprar carne bovina da Argentina em quantidade suficiente para movimentar materialmente o mercado.