A Petrobras ganhou mais de 40 bilhões de reais no ano passado, o que significa o maior lucro anual de sua história. A empresa apresentou seu balanço financeiro de 2019 nesta quarta-feira, depois do fechamento da Bolsa de Valores de São Paulo, enquanto um terço de seus funcionários fazia seu 19º dia de greve em protesto contra o fechamento de uma fábrica de fertilizantes e as demissões relacionadas. Para o enorme lucro contribuiu o fato de que, desde que Jair Bolsonaro e seu liberal ministro da Economia, Paulo Guedes, assumiram o poder, o Estado vendeu uma parte importante de suas ações daquela que ainda é a maior empresa pública do país.
Os lucros se devem ao desinvestimento do Estado com a venda de ações no valor de 6 bilhões —parte dos planos de diminuir a presença do Estado—que estavam nas mãos de dois bancos públicos e a venda de campos de petróleo e outros ativos, informou a Petrobras. O presidente da empresa, Roberto Castello Branco, destacou que o desinvestimento estatal “ajudou a viabilizar o foco nos ativos dos quais somos donos naturais” e permitiu investir mais em áreas exploratórias do pré-sal, imensas reservas descobertas sob uma espessa camada de sal no Atlântico.
Este lucro recorde consolida a mudança de tendência registrada no ano anterior. A Petrobras voltou então a dar lucro depois de quatro anos no vermelho, desde que o escândalo de corrupção desvelado pela Lava Jato estourou. As investigações e as decisões sobre ocaso continuam no Brasil e no exterior. Nesta mesma quarta-feira um juiz condenou dois ex-diretores da Petrobras, Pedro Barusco e Paulo Roberto Costa, a pagar meio milhão de reais cada um aos funcionários da empresa por danos morais causados por práticas corruptas. Os dois condenados estão colaborando com a Justiça. O caso Odebrecht, derivado do caso Petrobras, levou à prisão na Espanha, há alguns dias, do ex-diretor da mexicana Pemex, Emilio Lozoya, acusado de receber subornos da construtora.
O lucro da Petrobras no fechamento do último exercício representa um aumento de 55% em relação ao de 2018, mas sem as vendas extraordinárias estaria próximo deste. Os lucros do ano passado foram, de acordo com a empresa, com o barril a 64 dólares em 2019, diante dos 71 do exercício anterior.
A greve de 21.000 dos 63.000 funcionários da estatal, que aumenta o risco de escassez no Brasil, continua apesar de um juiz ter anulado cautelarmente na terça-feira as demissões que a motivaram. Os afetados são 400 funcionários da estatal e outros 600 empregados de empresas subsidiárias que trabalhavam em uma fábrica de fertilizantes recém-fechada no Paraná. Estão em greve mais de 121 unidades da Petrobras, entre plataformas de produção, refinarias e terminais.
Os principais partidos da oposição de esquerda, o Partido dos Trabalhadores (PT) de Lula e o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), apoiam a greve dos petroleiros enquanto tentam transformá-la em uma plataforma contra o amplo programa de privatizações desenhado pelo czar da economia, Paulo Guedes.
Depois de anos de estagnação, a produção também se recuperou, ficando em três milhões de barris por dia entre petróleo e gás.