Pais “valem menos” que mães em ranking de gastos com presentes

Dia dos Pais é só a quinta melhor data para o varejo brasileiro

Vitrine Dias dos Pais | Reprodução
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No ano passado, o pai do vendedor Roberto Nunes recebeu um telefonema de felicitações no Dia dos Pais. Este ano, o ?presente? deve ser exatamente o mesmo. Já a mãe do vendedor ganhou uma blusa e um churrasco. ?Mãe é mãe, né? O laço afetivo é mais forte, então, o presente da mãe é melhor que o do pai?, diz.

Roberto, que hoje também é pai, começa agora a perceber estas diferenças dentro de casa. ?No Dia das Mães deste ano dei um perfume de quase R$ 200 para a minha esposa. No fim de semana, perguntei para ela: "quero saber o que eu vou ganhar?" E ela já disse que está sem dinheiro (risos).?

A história de Roberto confirma os números que há muito o varejo já conhece: as vendas do Dia dos Pais são significativamente menores que as do Dia das Mães.

?O varejo é cíclico, sazonal, vive das datas especiais. O Natal é, de longe, a melhor data, e a segunda data é o Dia das Mães, sem dúvida nenhuma. [Em termos de venda] O Natal é 60% melhor que o Dia das Mães, que, por sua vez, é 11% melhor que o Dia dos Pais, na média do período de 2003 a 2011?, explica Cláudio Felisoni de Angelo, presidente do conselho do Programa de Administração de Varejo da Fundação Instituto de Administração (Provar/FIA) e presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar).

Segundo o especialista, o Dia dos Pais representa a quinta melhor data em termos de vendas para o varejo brasileiro. "Pela ordem vem o Natal, o Dia das Mães, Dia das Crianças, Páscoa e, por último, Dia dos Pais."

Diferenças

Felisoni acredita que tanto os presentes comprados para as mães são mais caros, como também há mais gente comprando. ?A relação com a mãe é mais próxima que com o pai. Tenho a impressão de que os filhos, pela proximidade, expressam-se ? porque nós como consumidores também nos expressamos emocionalmente ? e, portanto, estão dispostos a colocar mais a mão no bolso pela mãe.?

Luís Augusto Ildefonso da Silva, diretor de Relações Institucionais da Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), reforça a teoria. Para ele, a quantidade de operações de compra é maior e o valor médio dos presentes para as mães é superior.

?Hoje tem muito mais mãe do que pai e a mãe tem um apelo emocional muito mais forte. O volume comprado é muito maior e o ticket médio é maior pela combinação de possibilidade de presentes, os bens a serem adquiridos são mais caros e o leque de opções é maior?, diz.

Os artigos a que os filhos mais recorrem na hora de presentear os pais, segundo o diretor da Alshop, são itens de moda masculina, como pijama, camisa, gravata; além de livros; CDs; e artigos de perfumaria. Já para as mães, os filhos costumam comprar moda feminina; perfumaria e cosmético; eletroeletrônicos; e CDs ? artigos, normalmente, mais caros que os dos pais.

O que há por trás dos números

Os professores universitários Lia Moretti e Silva e Alexandre Gonçalves enxergam diferentes fatores por trás dos números. ?Acho que há um laço de afetividade maior com a figura materna, mas também há muitos casos de ausência do pai?, arrisca Alexandre.

?Além disso, a mãe costuma ser mais sentimental, o pai parece que não dá tanta importância?, argumenta Lia, que atualmente vive em Nova Andradina, no estado do Mato Grosso do Sul, e admite que chegou a viajar quase mil quilômetros para passar o aniversário com a mãe em São Carlos, no interior de São Paulo, mas limitou-se a dar um telefonema para o pai quando ele fez aniversário.

Para o promotor de Justiça César Dario Mariano da Silva, a diferença dos presentes dados no Dia dos Pais em comparação com o Dia das Mães também revela um pouco da característica dos sexos.

?A mulher é mais suscetível, o homem é mais pragmático. Eu não ligo para esse tipo de coisa, acho que todo dia é dia dos pais, das mães, vejo a data como um dia comercial?, fala. ?Já a mãe é diferente. A minha esposa gosta, acha interessante, até porque não é com o dinheiro dela (risos).?

O promotor é pai do estagiário André César Mariano da Silva, que, pouco mais de uma semana antes do Dia dos Pais, passeava pelo shopping sem ainda ter nem sequer ideia do que daria para o pai.

?Geralmente eu compro o presente em cima da hora?, admite.

No ano passado, André e os irmãos deram uma gravata de presente para o pai. No Dia das Mães, a mãe ganhou, nas palavras de André, ?um belo sapato?.

Carina Baltasar lança mão do mesmo argumento do vendedor Roberto para justificar os presentes normalmente mais caros para a genitora: ?Mãe é mãe. Minha mãe é uma amiga?, disse. Mas, para ela, ainda que a ligação com a mãe possa ser maior, é importante fazer um agrado para o pai. ?Tem que dar presente.?

Expectativa

Segundo pesquisa encomendada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), divulgada na sexta-feira (3), 41% dos consumidores não devem comprar presente para o Dia dos Pais este ano.

A estimativa é que o aumento de vendas fique em torno de 3,5% em relação ao mesmo período do ano passado, quando as perspectivas de crescimento foram mais otimistas: 8%. A previsão de baixo crescimento já era esperada pela Confederação Nacional dos Lojistas (CNDL).

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