Quando mais nova, a enfermeira Isabel da Fonseca sonhava em se casar. Aos 30, teve uma gravidez não planejada. Em vez de se juntar com o namorado, preferiu criar a filha sozinha. Hoje, aos 46, conta com a ajuda da pensão de um salário mínimo que o pai de Daniela, de 16 anos, deposita todo mês. Mas, sustenta a casa onde mora com a filha e com a mãe, de 83, no Méier, arcando com despesas de escola, curso de inglês e plano de saúde, entre outros gastos, com os R$ 2 mil que recebe pelo trabalho num posto de saúde da Prefeitura do Rio, em Cascadura.
? Não planejei sustentar a casa sozinha, mas vi que daria conta. E passei essa visão independente para minha filha. Como muitos da sua geração, ela tem bastante personalidade, até por ter crescido em um lar assim ? conta Isabel, que acorda diariamente às 5h para levar Daniela de ônibus à escola e, depois, pega outra condução para cumprir a jornada de dez horas de trabalho.
Isabel faz parte de um grupo social que não para de crescer no país: o de mulheres que chefiam os lares brasileiros. Segundo dados do Censo 2010, divulgados ontem pelo IBGE, elas representavam 22,2% do total em 2000; agora, já são 37,3%.
Solteira e com nível superior, Isabel diz que as mulheres se sentem cada vez mais capazes de ser as responsáveis financeiras da família:
? Com mais escolaridade, você busca independência. O foco passa a não ser necessariamente o casamento.
Segundo o IBGE, mesmo nas residências com presença de um cônjuge, em 46,4% dos casos são elas que comandam o lar. Dez anos atrás, o percentual era de 19,5%. Enquanto isso, o número de famílias que têm o homem como responsável caiu de 77,8% para 62,7%. Para o instituto, a mudança decorre do ingresso das mulheres no mercado de trabalho, do aumento da escolaridade e da opção por ter menos filhos.