O apagão de ontem no Norte e Nordeste do país multiplicou transtornos pelas áreas atingidas, com cidades inteiras sem água, hospitais à meia-luz, calotes em bares, comida perdida, incêndios e até assaltos com isqueiros. No Ceará às escuras, o caso que exigiu mais atenção foi o de um bebê de 33 semanas internado em UTI neonatal em Juazeiro do Norte.
O gerador do Hospital São Lucas teve problemas e não funcionou. O bebê foi transferido para outra unidade. Em Pernambuco, o blecaute danificou equipamentos e paralisou o abastecimento de água em todas as regiões.
Floresta, no sertão, e Pombos, no agreste, ainda estavam sem uma gota de água na tarde de ontem. Gravatá, também no agreste, teve queda de 70% no fornecimento.
Na Grande Recife, 17 localidades foram prejudicada. Quinze horas depois do blecaute, moradores de Recife ainda reclamavam da falta de energia em suas casas. "Depois do apagão, a luz vai e volta e não segura 15 minutos", disse Barnabé da Silva, 51, da associação do bairro Jordão Alto.
Moradores perderam eletrodomésticos e alimentos perecíveis. "Joguei fora comida para dois dias que estava na geladeira", disse Silva, que relatou uma noite de "inferno" em razão do calor.
No Hospital da Restauração, maior emergência de Pernambuco, unidade de trauma e setores administrativos ficaram às escuras por cerca de duas horas porque um dos três geradores não funcionou. A enfermaria funcionou à meia-luz. Dois pacientes que respiravam com ajuda de aparelhos tiveram que ser transferidos para outro andar.
A Celpe (Companhia Energética de Pernambuco) informou que a interrupção afetou 100% dos municípios do Estado e que a recomposição foi gradativa, começando à 1h29 (2h29 em Brasília).
Na Bahia, onde todos os 417 municípios também ficaram sem luz, uma paciente do Hospital Cleriston Andrade, em Feira de Santana, morreu durante o apagão. A unidade não confirmou se houve relação com o blecaute.
Houve ainda perda de bolsas de sangue na Fundação de Hematologia da Bahia, que convocou doadores.
O comércio de Salvador sofreu com calotes. "Clientes não tiveram paciência para ficar na fila e saíram", disse Luís Silva, gerente de bar no bairro do Rio Vermelho.
Em outro ponto do bairro, o apagão interrompeu a festa de reinauguração de um bar, com atores como Isis Valverde e Marcos Palmeira.
No bairro de Nazaré, dois homens renderam o vigilante de uma loja de imóveis e usaram um isqueiro para levar R$ 6.000 em objetos.
Com a falta de luz, moradores acenderam velas e um casarão acabou incendiado no bairro da Mouraria --11 famílias perderam tudo. "Tinha feito 90 pares de sandálias para vender", disse a moradora Maria da Conceição.
Sem chaves de portão de pedestre, o advogado Márcio Melo esperou três horas para entrar pela garagem de casa --o controle não funcionava.
O incidente motivou queixas na Secretaria de Indústria e Comércio do governo Jaques Wagner (PT), que teve equipamentos queimados. O titular, James Correia, classificou o apagão como "desastre injustificável".