O Magazine Luiza desembolsou R$ 83 milhões para comprar as lojas do Baú da Felicidade. O negócio, que vai tirar a famosa rede de troca de produtos das mãos de Silvio Santos, deve mudar pouco a vida do consumidor. Na avaliação de especialistas em fusão de empresas, a compra vai ter mais efeito na briga das empresas pelo domínio do mercado do que efetivamente no bolso do cliente.
Disputam o setor de lojas de eletrodomésticos e equipamentos eletrônicos domésticos o Grupo Pão de Açúcar, dono do Extra Eletro, do Ponto Frio e das Casas Bahia, além de hipermercados; a Máquina de Vendas, empresa surgida da fusão das redes Ricardo Eletro e Insinuante, fortes no Sudeste e no Nordeste, respectivamente; e o Magazine Luiza.
O negócio anunciado nesta segunda vai mexer menos com a líder do que com as outras duas, na avaliação do economista Laerte Russo Farias, especialista em fusões da Corporate SP Business Consulting.
- Para o consumidor não muda nada. Porque as lojas do Baú, hoje, não são representativas. Já o Magazine Luiza [é uma empresa que] está consolidada, tem espaço para crescer e incomoda as grandes.
A operação de Magazine Luiza com o Baú envolve 121 lojas em São Paulo, Minas Gerais e Paraná. Embora haja pontos de vendas nas capitais, parte da rede de Silvio Santos atua mesmo em periferias e cidades menores. Com os novos locais, o Magazine Luiza elevará para 732 o total de lojas no país.
- Acho que isso é o principal. [O Magazine Luiza] quer abrir espaço geográfico, com mais pontos de vendas e clientes. Ninguém compra ninguém se não pensar nos clientes.
Em nota, o diretor de marketing e vendas Frederico Trajano diz que ?a compra do Baú está em linha com a estratégia do Magazine Luiza de reforçar os mercados onde já atua, especialmente na Grande São Paulo, e é uma oportunidade de ampliar o número de lojas virtuais no Paraná?.
Olavo Henrique Furtado, da Trevisan Escola de Negócios, afirma que a jogada tem mais a ver com marketing do que com o aumento massivo nas vendas da rede.
- O aumento é pequeno, na ordem de 11% do espaço das lojas. Por isso vejo que tem uma aposta forte de marketing envolvida. E a briga deve ser pelo segundo e terceiro lugar [do setor]. Vai ser bom acompanhar essa disputa.
Os especialistas cogitam, inclusive, acordos de propaganda. Um deles seria a permissão para que os clientes do Baú troquem os itens do carnê nas lojas da Luiza ou que a rede varejista use mais as inserções no SBT de Silvio Santos para divulgação comercial.
Fusões e aquisições
Em junho de 2009, o Grupo Pão de Açúcar remexeu todo o setor de lojas de eletrodomésticos e eletrônicos domésticos ao comprar o Ponto Frio. O acordo foi estimado em mais de R$ 824 milhões e deu à empresa de Abilio Diniz a liderança do mercado ? à frente de Casas Bahia.
Em dezembro do mesmo ano, a CDB (Companhia Brasileira de Distribuição) comprou a própria Casas Bahia, em um acordo que permitiu à família de Samuel Klein manter-se no grupo. A fusão foi estimada em R$ 120 milhões e colocou a empresa na liderança absoluta.
São mais de 1.015 lojas em 337 cidades (em 18 Estados e no Distrito Federal) e faturamento anual de R$ 10,8 bilhões, em 2011.
No começo do ano passado, duas gigantes regionais se uniram para concorrer em peso com o Pão de Açúcar no mercado. A Ricardo Eletro e a Insinuante anunciaram em março uma fusão que criou a Máquina de Vendas, que já surgiu ocupando o segundo lugar no varejo de eletrônicos. A nova rede é dona, hoje, de 750 lojas e registra um faturamento anual de R$ 5,7 bilhões.
Apesar do número menor de lojas, o faturamento previsto para este ano deverá colocar o Magazina Luiza na vice-liderança do mercado. Com as vendas do Baú de R$ 415 milhões, a rede teria faturamento bruto de R$ 6,1 bilhões no último ano.
A Ricardo Eletro e a Insinuante foram procuradas pela reportagem do R7 para comentar, mas não retornaram até a publicação desta notícia.
Dívidas de Silvio
Farias diz que quem se beneficia com isso é o próprio Silvio Santos, ?que está se livrando dos prejuízos? com uma ?habilidade fantástica para se desfazer das dívidas?.
O negócio ocorre praticamente seis meses depois de todo o império montado pelo empresário sofrer um baque por causa de um prejuízo do PanAmericano, o braço financeiro do grupo.
Em nota divulgada nesta segunda, o Grupo Silvio Santos diz que o negócio ?vai ao encontro da estratégia do grupo de concentrar suas operações em atividades tradicionalmente exploradas [pela empresa]?, entre eles a rede de TV SBT e o título de capitalização Tele Sena.
Guilherme Stoliar, presidente da companhia, se diz ?muito satisfeito com a venda de nossas lojas a um dos líderes do setor de varejo, que dará continuidade ao negócio adquirido?.
- Estamos confiantes que as afinidades entre os dois grupos, como o empreendedorismo que marca a trajetória de ambos, facilitarão a transição das lojas adquiridas pelo Magazine Luiza e farão desta operação um negócio bem sucedido.
Em dezembro, o PanAmericano anunciou um rombo de R$ 4 bilhões, depois que erros no balanço da instituição foram descobertas pelo Banco Central. A fraude terminou com a diretoria demitida e o banco, vendido para o BTG Pactual em janeiro. Por R$ 450 milhões, Silvio aceitou o negócio, e o BTG, especializado em investimentos, ficou com a dívida bilionária.
Ocorreu que o dono do SBT precisou pedir grana emprestada para cobrir o rombo, colocou seu império em xeque e agora fez sua segunda venda de ativos do grupo em apenas seis meses. Há rumores no mercado de que ele deverá vender ainda mais empresas ? o SBT não estaria entre elas. Silvio não confirma.