Cerca de quatro milhões de pessoas engrossaram as filas de desempregados no mundo em 2013, com o número total chegando a 199,8 milhões, de acordo com o relatório anual do trabalho divulgado nesta terça-feira (27) pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), uma agência da ONU com sede em Genebra.
O número de desempregados no mundo, aponta a OIT, cresceu em 30,6 milhões desde a crise financeira de 2008.
Para 2014, a OIT prevê um aumento de 3,3 milhões no número de desempregados no mundo. "Até 2019, o desemprego vai atingir 213 milhões", prevê a organização internacional, e "o número de pessoas sem uma ocupação deve se manter globalmente no nível atual de 6% até 2017".
Emergentes e avançadas
A taxa de desemprego em 2013 "permaneceu inalterada em 6%" da população economicamente ativa, acrescentou o relatório, que revela, entretanto, que 90% dos novos empregos no mundo serão criados nos países em desenvolvimento a médio prazo. O aumento mais forte do desemprego em 2014 acontecerá na Europa Central e nos países do antigo bloco soviético, onde atingirá 8,3%.
Desde 2009, as economias mais avançadas e as emergentes têm reagido de forma diferente em relação ao emprego. Nas economias avançadas, a taxa de desemprego chegou a 8,5% no início de 2009, contra 5,8% em 2007, antes do início da crise.
Em troca, nos países em desenvolvimento, a taxa de desemprego avançou pouco, passando de 5,4% em 2007 para 5,8% em 2009, em razão, principalmente, de um sistema de proteção social muito menos favorável que não permite a uma pessoa se manter por muito tempo com o auxílio desemprego. Depois dessa época, o nível de desemprego caiu novamente e quase chegou ao seu nível de antes da crise.
Migrações
Devido a esse panorama, as migrações vão acontecer no sentido sul-sul e norte-sul, revela a OIT. O aumento do desemprego em 2013 é explicado pelo fato de os países não terem criado a quantidade suficiente de vagas de trabalho para absorver todos aqueles que estão entrando no mercado.
O dinamismo dos países em desenvolvimento em matéria de emprego vai ter "um impacto maior sobre os fluxos migratórios", revelam ainda os espacialistas da OIT.
"As migrações sul-sul estão em pleno aumento, e cada vez mais trabalhadores deixam também as economias avançadas, em particular os países europeus, para trabalhar nos países em desenvolvimento", indica Moazam Mahmood, diretor adjunto do Departamento de Pesquisa da OIT, e principal autor do relatório.
De acordo com o informe, 231,5 milhões de pessoas viviam em um país que não era o de nascimento em 2013. O número total de migrantes aumentou de 57 milhões desde o ano 2000, e 19% desse aumento aconteceu nos últimos três anos.
As economias desenvolvidas e a UE atraem 51% dos migrantes, mas, desde o início da crise financeira mundial, as migrações sul-sul aumentaram.
A OIT ressalta também "uma multiplicação de casos isolados de jovens universitários saídos de países desenvolvidos afetados pela crise que emigraram para países emergentes nos últimos anos".
Salários
Entre 1980 e 2011, o salário per capita aumentou em média 3,3% por ano nos países em desenvolvimento, contra 1,8% nos países industrializados.
Nos países em desenvolvimento, 839 milhões de trabalhadores ainda ganham menos de dois dólares por dia. Mas esses empregos representam apenas um terço dos empregos totais, contra 64% há 20 anos.
A classe média constitui 44,5% da mão de obra dos países em desenvolvimento, contra 20% há duas décadas.
"Ao longo dos próximos anos, a maioria dos novos postos de trabalho nos países em desenvolvimento será de qualidade suficiente para permitir que as famílias tenham acesso a um padrão de vida acima da linha de pobreza nos Estados Unidos", afirma o relatório.
No entanto, 85% da força de trabalho nos países em desenvolvimento continuará a viver em 2018 abaixo do que é considerado a linha de pobreza nos Estados Unidos.
Segundo a OIT, a redução da pobreza entre os trabalhadores em muitos países em desenvolvimento tem sido "impressionante". A entidade ressalta, no entanto, que 899 milhões de trabalhadores nesses países tem renda de menos de US$ 2 por dia, e permanecem pobres. "Isso representa cerca de um terço do total dos trabalhadores, comparado a mais de 50% no início dos anos 2000", diz o texto.