A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, mandou um recado na manhã de hoje para os países dos BRIC --Brasil, Rússia, Índia e China: é preciso que os emergentes se acostumem a ter moeda forte.
A valorização das moedas nacionais frente ao dólar tem sido apontada pelo governo brasileiro como problema para a competitividade das exportações, e Brasília culpa os EUA e os países europeus por inundarem de crédito seus mercados.
Por outro lado, Washington critica Pequim por permitir apenas uma valorização muito lenta e gradual de sua moeda, o yuan.
"A Europa não é o único lugar onde é preciso agir. Os mercados emergentes também devem tratar de seus problemas", afirmou a número 1 do fundo em entrevista coletiva na véspera da reunião semestral da entidade em Washington.
Em uma aparente alusão à China, Lagarde disse que "alguns deles precisam focar na questão do crescimento _não apenas baseado em investimento, mas também em consumo, o que significa reformas profundas em casa".
"Outros mercados emergentes precisam ficar atentos aos fluxos de capitais, e administrá-los com as ferramentas macroprudenciais [políticas econômicas de prevenção] necessárias, ajustarem suas moedas da forma apropriada e aceitarem a evolução de suas moedas", completou, em uma mensagem para o Brasil.
Na quarta-feira, o economista José Viñals, responsável pela área de finanças e mercados no FMI, havia dito em entrevista à Folha que a valorização do real é natural, dada a atratividade do mercado brasileiro para os investidores estrangeiros, e que o governo em Brasília
deveria reconhecer isso e admitir a elevação paulatina da cotação.
SEM RECEITA ÚNICA
Lagarde insistiu também que os BRICs tratem de seus problemas de forma distintas, e destacou que não há solução comum a todos.
Aproveitou ainda para exortar esses países, que resistem, a contribuírem com a barreira de proteção anticrise que o fundo tenta levantar neste seu encontro.
"Os BRICs são um belo nome inventado pelo [banco de investimentos] Goldman Sachs, e a questão de ter uma abordagem específica para cada país também serve para eles. Eles têm problemas diferentes, questões distintas de moeda, fluxo de capital e projeto de crescimento", afirmou.
"O que eles têm em comum é seu apreço pelo multilateralismo, e espero que isso seja demonstrado por todos os seus membros."
O Brasil condiciona sua participação à implementação da reforma de cotas do fundo aprovada em 2010, que ampliará a parcela dos emergentes na instituição.
O processo, porém, está travado ante a falta de aprovação doméstica de alguns países-membros --notadamente os EUA, cujo Congresso reluta em votar a decisão.